Festival de besteiras que assola o Bolsonaro

Por Márcia Martins

Apesar de algumas desavenças que tive com a vida nesta minha trajetória quase sexagenária, posso ser considerada uma eterna otimista, até do tipo esperançosa, aquela que procura sempre olhar o lado positivo das coisas e entende que de todas as situações, mesmo as adversas, é possível se tirar alguma lição. Longe de ser a menina Pollyanna, personagem do livro de Eleanor H. Porter, publicado em 1913, que praticava e ensinava o jogo do contente, brincadeira que consistia em extrair algo de bom e positivo em tudo, tenho tentado, desde o início de janeiro deste ano, acordar toda a manhã com a expectativa de que não vou ouvir, pelo menos por um dia, asneiras ditas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Mas é quase missão impossível. Uma espécie de utopia. Uma probabilidade que nasce fadada ao fracasso já que depende da "inteligência" de Bolsonaro. Ou de colocar um esparadrapo nos seus lábios. Eu fico pensando, cá com meus botões, como pode uma criatura ter um arsenal tão grande e variado de sandices. Eu me pego imaginando, sempre que fico sabendo de algum absurdo que ele disse, como este ser que responde pelos destinos da terra amada e idolatrada pode dispor de um repertório tão variado de imbecilidades. E nem quero, para não melindrar muito os seus eleitores e eleitoras, saber o que eles estão pensando de um presidente que se notabiliza por proferir tantos disparates.

Pois, neste mês de agosto, envolvida com os preparativos finais da mudança, evitei, ao máximo a leitura de notícias nos jornais, o acesso às redes sociais, os comentários nos grupos de WhatsApp e ligar a televisão. E só assim, com estas atitudes radicais, essa que se define como otimista, ficou sem ter conhecimento, pelo menos uns dias, do monte de bobagens que saem da boca do mandatário máximo do Brasil. Não fiquei sabendo das inúmeras vezes em que ele, desrespeitando a liberdade de imprensa e a função do bom jornalismo de perguntar, interrompeu ou destratou um jornalista. Nem das piadas infelizes e homofóbicas em muitas situações e nem do desprezo, mesmo que eu não concorde com as suas escolhas, que ele costuma usar na relação com seus ministros.

No Festival de Besteiras que Assola o Bolsonaro (Febeabo) cada dia é uma novidade, uma patetice maior, uma estupidez sem precedentes e uma burrice que faria corar o mais ignorante dos animais irracionais. Segundo o jornalista Luiz Cláudio Cunha, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, no dia 8 de agosto, "todo dia, a imprensa e os jornalistas fazem um esforço hercúleo para qualificar o governo do capitão Jair Messias Bolsonaro, permanentemente assediado pelas sandices do que diz e pelos absurdos do que faz na cadeira de presidente da República". E ele lista 216 palavras que a imprensa utiliza para definir com precisão Bolsonaro e seu governo, nenhuma delas muito elogiável.

Cunha diz que, pelo conjunto da obra, até agora, Bolsonaro pode ser considerado o chefe de Estado mais esdrúxulo entre as 206 nações hoje existentes no planeta, conforme as Nações Unidas, que analisa 190 Estados soberanos e outros 16 ainda em disputa. O colega escreve que, por tudo isso, em pouco mais de seis meses de mandato, o capitão pode ser qualificado com justiça como o pior dos 38 presidentes da história republicana brasileira.

Entendo que falar bobagens dentro do seu quadrado, isto é, do País que elegeu esta figura sem a mínima capacidade para comandar o Brasil, é quase um castigo para os eleitores e eleitoras desta pessoa. E um suplício para quem não votou no "Mito". Mas, Bolsonaro não precisava encerrar os oito meses de seu mandato protagonizando uma cena deprimente de desrespeito com Brigitte Macron, esposa do presidente da França, Emanuel Macron, que tem 27 anos a mais que seu marido, em postagens onde comentou não só a diferença de idade entre o casal francês, como a ausência de beleza, na visão tosca de Bolsonaro, da Brigitte. Só para informar, Brigitte e Macron tem uma linda história de conquista e amor. Já Michelle, esposa do presidente do Brasil, tem 27 anos a menos que Bolsonaro e é a terceira mulher dele.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários