Bão, agora não tem mais jeito: o arranjo tá feito. Todas as sextas escrevo, toda semana você lê. Felizmente, ambos no mesmo lado da dúvida: ninguém sabe a próxima linha, um outro parágrafo é uma hipótese a seguir, novos textos são incógnitas.

Vamulá, que o leitor evoluiu, tem pressa de conferir. Como o humorista é o mesmo e o regime bem melhor, uma pergunta arrepia as penas, empluma as plumas, se pavoneia:

O que esse cara vai fazer com tanta liberdade pra escrever?
Peraí, o país continua Brasil. Sob o tapete nacional ainda há muita sarna pra eu me coçar.

(Amadurecer nada mais é que ter acesso aos andares mais altos de uma torre de observação. Por uns 40 anos, os mirantes se sucedem, horizontes alargam, nosso foco registra amplitudes. A partir dos 40, surge a panorâmica dos belvedéres com sua visão típica: repetitivas paisagens que já retinem na retina. A essa altura, olha o contemplativo agarrado à balaustrada. Agora concentrado nos detalhes, debruçado na revisão. Ajusta o foco, Fraga!)

Mas no avesso do tapete é que tá a diversão: cabe o descabido, pode o impossível, entra o de fora, assentam o senso e o contra-senso. Melhor diálogos entre antípodas e xifópagos que monólogos com gorilas. Preferível desafiar o amanhã que desfiar o passado. E que legal a língua-mãe, solta ou presa, soar livre. Outros tempos, outros tumores, digo, humores.

Você vê, o editorial chega ao fim e este que vos tecla não pecou contra a civilidade. Ao contrário, trago palavras doidas prum recreio com você: ambigramas, anagramas, oxímoros, palíndromos, pangrans. Essas vieram na bagagem de mão.

As malas da irreverência e da ironia, mais o baú crítico, já estão sendo descarregados. Não se alarme: abrirei aos poucos.

É um prazer reatar o que nunca foi desatado.

Para eu não falar sozinho neste espaço, um mínimo de audiência é necessário. Assim, recorro aos sócios e associados de sensíveis segmentos sociais: a soma
de pequenas espiadelas equivale a uma imensa olhadela!

À Sociedade de Consumo: Comprem pelo menos alguns gramas de idéias.
Às Sociedades Alternativas: Se alternem na freqüência à página.
À Sociedade Espírita: Não digam que não sou espirituoso.
Às Sociedades Anônimas: Invistam atenção aqui e aumentem a minha cotação.
Às Sociedades Desportivas: Façam holas com seus cílios e pestanas.
À Sociedade Hípica: Superem os obstáculos e me leiam a galope.
Às Sociedades Secretas: Mesmo às escondidas, prestigiem estas bobagens.
Às Sociedades Recreativas: Divirtam-se comigo.
À Sociedade Portuguesa de Beneficência: Sua visita é saudável para mim.