IN FORMA

Por Marino Boeira

25/09/2024 14:33 / Atualizado em 25/09/2024 14:31
IN FORMA

A ESCOLA JULIANA DE FILOSOFIA

No final dos anos 50 floresceu em Porto Alegre uma das mais importantes escolas filosóficas modernas, mas que infelizmente é desconhecida da maioria das pessoas.

Era a chamada Ágora Filosófica Juliana. Na última sexta-feira de cada mês, em vez de aulas, os alunos da turma 35 do Julinho se reuniam sob a sombra de um grande cinamomo que havia no pátio, para elucubrações filosóficas.

O que restou daquela época está apenas na memória de alguns poucos que ainda permanecem vivos porque uma das regras do grupo é que não se fizessem nenhum tipo de anotação.

O Gregório, que normalmente dirigia os debates, dizia que o que fosse importante seria lembrado, o desimportante seria esquecido. O que lembro e de quem lembro daqueles dias?

Lembro do Pamplonus com a sua tese de que vivemos em ciclos, que não necessariamente seguem uma ordem cronológica. Para ele os ciclos são: infantil, juvenil, senhorial e senil e as pessoas quando passam de um ciclo para o outro guardam características dos anteriores.

O Artemius era obcecado pela velocidade do tempo. O hoje é fugidio, o amanhã é inalcançável e vivemos só do ontem. Tudo na nossa vida são as lembranças do passado.

Antonius Martin, o Francês, vivia um dilema permanente entre o ateísmo da vida adulta e a religião da infância. Se Deus é nosso pai maior, precisamos matá-lo diariamente, dizia ele

Marinus falava da importância do testemunho. Vivemos para testemunhar. Nada mais importa, além de nos colocarmos como grandes observadores. O sistema capitalista só terminará quando todos puderem testemunhar suas injustiças intrínsecas com todos os seres humanos.

Obedius defendia como única postura digna do ser humano o ceticismo permanente. Não devemos acreditar em nada ? deus, pátria, família ? todas as instituições são opressivas.

O que será feito hoje daqueles ?filósofos? julianos? Passei a semana procurando em cartórios, nos arquivos de jornais e no google referências daqueles nomes.

O que descobri:

O Gregório se tornou arquivista do Itamarati e se transformou numa fonte de consultas sobre o papel da diplomacia brasileira.

Pamplonus foi durante anos professor de Ciências no próprio Julinho onde se aposentou 'cum láurea? em 1998.

O Artemius abandonou Porto Alegre e foi viver no Haiti e dele não tenho mais nenhuma referência. Como era o mais velho de todos, imagino que tenha morrido.

O Francês entrou no seminário, se transformou em padre e hoje é bispo emérito de Botucatu.

Marinus se tornou um jornalista conhecido na Paraíba para onde se mudou e hoje tem um blog onde relata suas lembranças do tempo do Julinho.

Finalmente Obedius se tornou escritor conhecido pela sua obra ?A importância de acreditar em Deus?

Minha ideia hoje é tentar reunir novamente todo esse pessoal aqui em Porto Alegre para a última e definitiva rodada da Filosofia Juliana.