IN FORMA

Por Marino Boeira

16/10/2024 17:10 / Atualizado em 16/10/2024 17:06
IN FORMA

SEM OLHOS EM ISRAEL

Israel é um estado racista como foi no passado a África do Sul e colonialista, como foram todas as grandes potências européias até há pouco tempo na África e na Ásia. A história desse país, que hoje promove, sob os olhos complacentes do mundo inteiro, um genocídio contra os palestinos só comparável ao que os judeus sofreram durante o nazismo, é contada em três livros,coincidentemente escritos por professores judeus: Shlomo Sand, professor em Tel Aviv, em Invenção do Povo Judeu; Norman Finkelstein, professor em Nova York, em A Indústria do Holocausto e Ilan Pappe, professor no Reino Unido, em Limpeza Étnica na Palestina.

A história do povo judeu que se tornou nômade após deixar a Palestina sob o domínio do império romano foi recuperado de forma ficcional por Theodor Herzl, um jornalista que viveu no império Austro-Húngaro e que no final do século dezenove desenvolveu a idéia de que os judeus espalhados pela Europa deveriam se unir para viver num só lugar o Sião. Daí a origem do termo sionista para identificar uma doutrina que pregava a falácia de uma terra sem povo (a Palestina) para um povo sem terra (os judeus). Durante algum tempo suas pregações foram pouco ouvidas e ele mesmo considerou a possibilidade de que essa terra prometida fosse em Uganda, na África.

Nos primeiros anos do século XX, com a ocorrência da Primeira Grande Guerra, a idéia de Theodor Herzl começou a se tornar viável, quando o banqueiro Barão de Rothschild decidiu financiar a luta da Inglaterra contra a Turquia, que controlava a Palestina, em troca do reconhecimento da migração de Judeus para lá. Isso começa a ocorrer lentamente nos primeiros anos para uma Palestina já sob o mandato britânico e se acentua depois das perseguições nazistas aos judeus.

A história desse processo é contada em detalhes por Shlomo Sand na Invenção do Povo Judeu.

O "Holocausto" termo usado para caracterizar a perseguição sofrida pelos judeus durante o nazismo é o tema principal do livro de Finkelstein A Indústria do Holocausto. Ele diz que o uso do Holocausto como justificativa para a presença sionista na Palestina começa a partir da chamada Guerra dos Seis Dias. Até então, os grupos judaicos que lutavam com armas na mão contra os ingleses no processo de formação do estado de Israel não viam com bons olhos a passividade e alguns casos até a colaboração de judeus com seus carrascos nazistas durante a Segunda Guerra, como no caso da Polícia Judaica no gueto de Varsóvia.

Pappe, por sua vez, trata do processo, ora em andamento, de limpeza étnica que Israel realiza na Palestina, principalmente em Gaza.

Zero Hora, um jornal publicamente identificado com o sionismo, enviou para cobrir a guerra que Israel move contra os palestinos, Rodrigo Lopes, um jornalista totalmente despreparado e sem conhecimentos históricos sobre o que aconteceu na região no passado. O jornal deveria ter providenciado para ele esses três livros que não pesaram muito na sua bagagem e evitariam os ridículos comentários que ele envia do "front".

Como Israel já ampliou sua guerra invadindo o Líbano, recomendaria ao Rodrigo Lopes que lesse também Pobre Nação, do Robert Fisk sobre todas as guerras que esse país sofreu no século XX, boa parte delas por obra e graça de Israel. Obviamente seria um conselho inútil porque ele certamente prefere ler os comentários dos serviços militares de Israel sobre os acontecimentos.

(O título desse comentário faz uma referência ao livro de Aldous Huxley - Sem Olhos em Gaza - que certamente o jornalista da Zero Hora não leu).