Está cada vez mais comum as escolas e pré-escolas não permitirem que seus alunos levem armas de brinquedo para estes locais. Entendem que estimula a violência entre as crianças. Também é comum a polícia fazer iniciativas de troca de uma arma de brinquedo por um chocolate, outro brinquedo não-violento ou coisas do gênero. Mas eu me pergunto: será que é este o caminho?
Toda criança (e todo ser humano) tem agressividade. É normal. E ela deve manifestar sua agressividade, aprendendo, claro, qual a melhor forma de extravasá-la. A agressividade faz parte do mundo da criança. As crianças são, muitas vezes, cruéis (quer maior crueldade do que apelidar a criança que usa óculos de quatro-olhos, o gordinho de bolota). Suas brincadeiras também o são, ocasionalmente. Aos poucos é que vão aprendendo que as coisas não devem ser resolvidas no tapa. E entendo que elas precisem extravasar esta agressividade. Claro que não faço a apologia das armas e nem quero espancamentos entre as crianças nas escolas. Quero somente que permitam à criança ser criança, como um ser humano com todos os sentimentos: raiva, amor, carinho, tristeza.
Quando criança, brinquei demais com revólveres de espoleta, espadas, enfim, armas. Me tornei um adulto agressivo em função disto? Certamente que não. Quem me deu as condições internas foram meus pais, me educando e colocando limites. Papel muito importante também tiveram os educadores que passaram pela minha vida. Tenho absoluta convicção que brinquei muito mais com armas (de brinquedo, claro) do que meu filho de quatro anos. E não saí por aí atirando contra as pessoas nem espancando velhinhas.
Será que foram as armas de brinquedo que tornaram o mundo mais violento? Adianta policiá-las, extingui-las? O mesmo debate se faz em torno dos jogos eletrônicos violentos. Estimulam a violência? Sei não. Acho que o que realmente estimula a violência são pais que não dão educação, atenção e carinho para seus filhos. O que estimula a violência são condições de vida subumanas, sem dignidade. O que estimula a violência é a falta de casa, carinho, trabalho, alimento e educação. Na verdade, não dispor destas condições mínimas, isto sim é que é violência.
Me parece que estamos debatendo a superfície, quando deveríamos aprofundar. Sempre haverá armas de brinquedo, disto não resta dúvida. O que falta são intenções verdadeiras, e não de brinquedo, para resolver o problema. Porque a solução das reais causas da violência é muito complexa e, portanto, trabalhosa. Mas é chegada a hora de resolver de vez este problema. Se não, ficaremos como os pais das crianças que foram assediadas por Michael Jackson. Como disse outro dia a escritora Martha Medeiros: mas onde estavam estes pais quando permitiram que seus filhos ficassem sozinhos com o ex-astro pop?
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