Jeito

Por Flavio Paiva

Por mais objetivo e tecnológico que o mundo vá ficando, quando se trata da interação entre duas pessoas, o jeito de falar, olhar e até tocar é fundamental. Pode ser numa relação comercial, pessoal, pode ser em qualquer destas oportunidades. Porque, afinal, somos humanos.

Claro que, com o avanço de algoritmos, IA, Machine Learning, não é preciso jeito. São máquinas atuando e interagindo. Estamos falando de bits, bytes e muito mais. Zeros e uns, afinal.

Mas estamos vivendo, e viveremos por bons anos ainda, com atividades desempenhadas por seres humanos com seres humanos. Desde atividades de liderança em uma empresa, até alguém interessado em alguém, ou um amigo consolando outro (ou dando uma dura, dizendo umas verdades), um psiquiatra com seu paciente, pais com seus filhos, enfim, há uma enorme relação de atividades que seguem - e inúmeras seguirão - sendo ser humano x ser humano.

A subjetividade sempre estará presente nestas situações. E o meu tema - o jeito - é pra lá de importante. Porque a mensagem pode ser mal entendida, distorcida ou até exagerada, ferir ou estimular, dependendo do jeito com que for emitida.

Há pessoas mais sensíveis, que acabam por sentirem mais. Terem uma antena captadora mais aguçada ou a pele mais sensível. Ou ambos. Estas, dependendo de que ambiente estamos falando (pessoal ou profissional) e com quem estão falando (pessoas excessivamente diretas, eventualmente agressivas, pessoas com raiva de outras questões e acabam por descarregar nesta, é um grande pacote de interações), podem ter uma reação em que sintam muito mais do que aquelas que têm ou menos sensibilidade, ou a pele "mais grossa", pelas pauladas e situações pelas quais passaram e já levaram da vida.

Mesmo com todos estes considerandos, entendo que o jeito é mesmo fundamental. Não me refiro a ser dodói, ter que quase pisar em ovos para falar algo. Falo de cuidado. Jeito entendido como cuidado, como respeito. Consideração. Porque este é um fator importantíssimo em nossas vidas e que nos humaniza. Mostra empatia, até mesmo compaixão.

Jeito pode ser ainda gentileza. Atitudes gentis (não afetadas, apenas gentis) fazem sempre com que a outra pessoa sinta-se exatamente humana. Talvez um pouco mais importante do que estava se sentindo. Pode até mesmo resgatar alguém de um buraco.

Então, vamos atuar com jeito, com gentileza, com empatia, quando estivermos falando de seres humanos. Estas atitudes fazem a diferença e aumentam não apenas o bem estar do outro, mas a autoestima e, economicamente falando, a produtividade. Alguém que se sinta valorizado, entre outras coisas, produz mais. Rende mais. E até mesmo dá mais de si.

Naturalmente que já passei pelas experiências de ter sido tratado com jeito, sem jeito, com gentileza, sem gentileza e enfatizo que faz grande diferença, razão pela qual dediquei toda uma coluna semanal ao tema. Jeito.

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