Jornalismo: uma profissão de risco

Por Márcia Martins

O número de jornalistas mortos no exercício da profissão, no ano passado, subiu 50% em relação a 2021. Com esta informação, nada acalentadora para quem escolheu tal profissão, o boletim de notícias da ONU (Perspectiva Global Reportagens Humanas) marcou, na quarta-feira (3 de maio), o Dia Mundial de Liberdade de Imprensa. Em 2022, pelo menos 67 jornalistas no mundo (apenas os notificados) perderam a vida enquanto trabalhavam na profissão que escolheram: levar informações de interesse público à população, item fundamental para uma sociedade democrática, livre e justa.

Em pleno 2023, o cenário não promete ser muito diferente, mesmo que tentemos ser otimistas. É crescente o volume de ataques e ameaças a jornalistas e todos concordamos que uma imprensa intimidada, amordaçada, apunhalada e morta é um retrocesso indesejável para qualquer regime democrático. Um ambiente de insegurança para os jornalistas não pode ser tratado apenas como um tema exclusivo da profissão ou dos sindicatos e organizações que os representam. Deve preocupar a sociedade como um todo.

Todo o dia, ao sair de sua residência, o jornalista pode ser abatido enquanto está trabalhando. E não precisa, necessariamente, estar atuando na cobertura de uma guerra, por exemplo. O profissional, por estar constantemente atrás da verdade, pode incomodar algum poderoso (e essa categoria é capaz de tudo), ou pode entrar em uma zona de conflito para buscar informações sobre uma morte, ou ficar na mira de uma bala que não mais será perdida ou qualquer outra fatalidade. Enfim, o Jornalismo tornou-se, definitivamente, uma profissão de risco.

No 30º aniversário do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura celebrou a data, em Nova Iorque, ao anunciar três jornalistas que estão presos no Irã para receber a distinção Unesco Guillermo Cano 2023/Prêmio Mundial Liberdade de Imprensa. Com a escolha, a Unesco reforçou a importância de homenagear as mulheres jornalistas impedidas de exercer suas funções e que enfrentam ameaças e ataques em todos os fronts da vida. Segundo a diretora da Unesco, Audrey Azoulay, 2022 foi o ano mais fatal para jornalistas. "As mortes ocorreram, principalmente, fora de zonas de guerra. Muitas vezes, estavam em casa".

As premiadas pela Unesco foram Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi, detidas em setembro de 2022 por reportagens sobre a morte da jovem Mahsa Amini, presa por não usar "corretamente" o véu e morta sob custódia policial, e Narges Mohammadi, condenada a 16 anos de cadeia em 2016. Narges não silenciou. Ela continuou a fazer reportagens dentro da prisão e entrevistou outras detentas. Os depoimentos colhidos com as demais prisioneiras foram incluídos no trabalho 'Tortura Branca: dentro das prisões iranianas para mulheres'.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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