Kamadutra, o livro

Por Flávio Dutra


Já revelei em outras postagens que sou altamente sugestionável, isto é, os amigos me recomendam as coisas mais estapafúrdias, no popular,  me botam pilha, e eu acabo acolhendo as besteiras. A mais recente - e escabrosa -  é para que intitulasse o próximo livro com uma variante do Kamasutra, aproveitando a sonoridade que rima com meu honrado sobrenome. Nasceu daí o título Kamadutra. O que mais surpreende é que a sugestão partiu de um amigo ultraconservador em relação aos costumes, sinal desses controversos tempos em que vivemos, de valores tão fugazes. Tempos líquidos, diria Bauman.

Aí recorri a Wikipedia para  detalhar do que se trata o Kamasutra, ou Kamasutram em sânscrito, uma vez que nunca precisei recorrer a essa fonte  para me inspirar eroticamente. Optei por usar Kamasutra na versão de duas palavras juntas, como a união de dois corpos, bem de acordo com o tema. 

O texto indiano sobre o comportamento sexual  na antiguidade foi escrito por Vatsvayana que, surpreendentemente, seria um estudante celibatário, que viveu em Paliputra (olha aí, outra rima provocando Dutra)  no início do século IV.  Pelo jeito, Vatsvayana era um grande voyer por ter descrito, em detalhes, tantas formas de um casal chegar ao prazer. É preciso reconhecer que era um homem de posições!

Consta que ao contrário do que se pensava na época, o Kamasutra não foi um manual de sexo, mas teve por objetivo  estabelecer o kama, ou o "gozo dos sentidos", nos objetivos da antiga vida hindu. Mais de quinze séculos depois, acho que dá na mesma. As chamadas dos textos numa simples googlada na internet  reforçam a impressão de que o Kamasutra que chegou até os dias atuais é erotismo puro com exaltação do velho e bom sexo. Alguns exemplos dessas chamadas, escolhidas aleatoriamente: "Kamasutra: sete posições sexuais que mais estimulam o prazer da mulher"; "Kamasutra: 12 posições que garantem orgasmos inesquecíveis"; "As 50 posições do Kamasutra que todos os homens tem que experimentar". Parei por aí a pesquisa porque o número de posições indicadas estava aumentando de forma exponencial.

Se fosse lançada hoje, a obra e seu autor seriam, certamente, cancelados por só contemplarem as relações entre homem e mulher, ignorando a diversidade de todas as formas de amor, acolhidas com naturalidade nestes tempos pós-modernos.  Mas não contem comigo para julgar um texto de séculos atrás. E, vamos combinar, o Kamasutra  não tem nada para ensinar aos amantes nos dias de hoje. Se bem que no meu caso não teria preparo físico, nem flexibilidade para algumas práticas, só não me peçam detalhes. 

Fico por aqui porque não vai faltar quem, pudicamente, me acuse: "Este velho devasso  só pensa naquilo". Pensando bem, acho que preciso colocar um filtro nas sugestões que recebo.,

*Texto do capítulo Preliminares, numa provinha do livro Kamadutra A Garota do Supermercado e outras histórias bobas, que será lançado amanhã, com sessão de autógrafos, no Chalé da Praça 15, no Largo Glênio Peres. Começa às 18 h e vai até o último autógrafo. O autor adverte: é um livro para todas as idades. Não me deixem só.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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