Labirintos & Minotauros

Por José Antônio Moraes de Oliveira

 

Uma lenda da mitologia grega, o labirinto construído pelo Rei Minos em Creta, tem sido motivo de inspiração para pintores, poetas e escritores. Edgar Allan Poe, Gilbert Keith Chesterton, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar escreveram contos, poemas e parábolas sobre o simbolismo dos desencontros no labirinto e de seu apavorante habitante, o Minotauro.

Para GKC, a lenda reviveu seu misterioso enigma espiritual durante a Idade Média, quando encontrar a saída no labirinto era ato devocional para o cristão que buscava redenção para seus pecados. Já o labirinto borgiano tem simbolismos e simetrias diversas da ortodoxia espiritual de Chesterton. O poeta argentino evoca o significados trágico do palácio de Dédalo, onde quem ali entrava não conseguia sair e estava condenado a ser devorado pelo Minotauro:

"Nos encontramos sem porta de entrada, nem de saída".

Quanto à Julio Cortázar, ele sexualizou o mito de Creta, projetando em cores negras o destino dos que se perdem nos labirintos da vida. De certa forma, replicando Jorge Luis Borges, quando sugere que trilhamos um caminho onde gerações se perderam e onde seguiremos o mesmo destino. O próprio Borges confessou, que em criança, quando lia sobre o Labirinto de Creta, lamentava não dispor de uma lente de aumento para encontrar o centro do labirinto, onde estava o Minotauro.

Na lenda clássica, o Minotauro é aprisionado no labirinto de Dédalo, que o construiu de forma tão intrincada que nenhum ser vivo encontrava a saída. Mas o Minotauro reinventado por Borges é simplesmente um ser solitário, rejeitado e temido, que despreza a todos porque sabe que nasceu de um ventre de rainha. Em um de seus últimos escritos, Los Conjurados, ele refaz sua antiga versão do labirinto:

"Nosso belo dever é imaginar que existe um labirinto e um fio.

Nunca encontraremos o fio, mas se o encontramos o perdemos,

envoltos em filosofia, fé ou apenas felicidade".

 O que o poeta argentino quer nos dizer é que podemos optar entre dois caminhos, um absurdo e outro com significado. Escolhemos nos sentir como prisioneiros em um labirinto absurdo ou viver a aventura da procura de um sentido. Não muito diferente o que pregava o ortodoxo Gilbert K. Chesterton.

***

Já para o espanhol Pablo Picasso existe um outro Minotauro, como ele revelou na intrigante série de 100 gravuras, inspiradas em seu caso de amor com Marie-Thèrése Walter. A série, conhecida como "Suite Vollard" constitui um verdadeiro diário amoroso, onde muitas vezes Picasso se autoretrata como um minotauro, demonstrando amor por sua musa. E explicou:

 "Eu não procuro o Minotauro. Eu o descubro.''

 ***

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

Comentários