"Capivarol, o Rei dos Tonicos. Dá força aos fracos, Gordura aos magros Energia aos exgottados?.
(Anúncio na Revista Caretas, Setembro de 1924).
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Em uma tarde preguiçosa de verão na fazenda do Passo Grande eu estava entretido com o ?O Tico-Tico? do ano em que nasci. Aí o avô chegou com uma pilha de almanaques do "Capivarol" e do "Biotônico Fontoura". Ele devia achar graça em meu interesse por aqueles velhos almanaques de seu tempo de estudante.
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Larguei na hora o que estava lendo e peguei o almanaque de cima da pilha. Era um o Capivarol de 1941 e na capa, uma melindrosa coberta de peles, flores e pérolas. Uma imagem bem apropriada para os tempos de guerra na Europa e de muitas incertezas e medo no Brasil. A capa multicolorida era apenas um aperitivo para as páginas amareladas e gastas por leituras sem conta. Logo no início, peguei uma narrativa de 1890, de autoria de Machado de Assis, de como surgiu o primeiro almanaque. Era em estilo fantasioso, ao gosto de sua época:
"O Tempo se apaixonou pela jovem Esperança, porisso criou o Almanaque para registrar dias, meses e anos, para que ninguém se enganasse com o tempo. Então, folhetos que caiam dos céus faziam com que todos compreendessem a língua do campo e das cidades. As palavras escritas em folhas de papel se modificavam a cada ano e assim contavam a passagem do Tempo. Dessa forma, o Almanaque contou a idade da Esperança, que ao deixar para tra?s a Juventude, tornou possível o amor do velho Tempo. E, a partir de então, a passagem do Tempo enche de Esperança a vida das pessoas".
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Um dos mais antigos do Brasil, o almanaque Capivarol começou em 1919, publicado por um laboratório do Rio de Janeiro para divulgar seu produto carro-chefe, o auto-intitulado O Rei dos Tônicos. Era distribuido de graça em farmácias e drogarias em todo o País, recheado de anúncios de xaropes, unguentos, pílulas e elixires. Publicava calendários de feriados e datas festivas, além de conselhos para o plantio e colheita de hortas e lavouras. Também se sabe que os almanaques em geral cumpriam função educativa ao indicar tratamentos para doenças e pragas. E ainda substituiam cartilhas escolares e estimulavam o hábito da leitura.
Interessantes e reveladoras dos hábitos de então são as cartas de leitores, testemunhos dos benefícios de tônicos e xaropes. Em 1933, um leitor agradecido escreveu:
"Sonhei com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ela me mostrou um vidro de remédio para a maleita. Comprei e usei. Graças a Deus minha filha melhorou. Acho que foi um milagre".
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Outro depoimento, ainda mais expressivo, é a carta de uma senhora Maria de Jesus Valle, de Bello Horizonte, com firma reconhecida e data de 28 de Dezembro de 1931. O relato está em sua ortografia original:
"Cumprindo um dever de gratidão (...) communico-lhe que soffrendo de desanimo immenso, falta de appetitte, insomnia e tedio horrivel, deparei com um reclame de seu preparado e, quasi descrente, comecei a usal-o. Fiquei surpresa com o resultado obtido e continuando até o quarto vidro, tornei-me hoje uma moça forte, bem disposta e sem aquelle tedio que tanto me atormentava a vida".
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