Meu amigo, Pinta

Por Marino Boeira

No mundo fantasioso da publicidade, não são poucos os que se intitulam criativos, alguns até nem se envergonham se proclamarem gênios.

Eu vivi uns 30 anos nesse meio, onde sempre me considerei um competente trabalhador intelectual, fazendo algo que muitos outros poderiam fazer e até melhor.

Os que se autoproclamam criativos, na maior parte das vezes, eram re-leitores de criações alheias, adaptadores de obras feitas e muitas vezes meros plagiadores.

Convivi com algumas exceções. Talvez arriscando cometer algumas injustiças, lembro do Beto Soares, do Flávio Teixeira e da Graça Craidy.

Mas nenhum foi maior do que o Pinta - o Roberto Pintaúde - nessa área.

Ele está para a publicidade gaúcha, como o Luís Fernando Veríssimo está para a crônica.

Nem sei se suas peças foram eficientes em ajudar seus clientes, o que afinal é o objetivo da propaganda. Mas o que criou para a loja Homem e para diversos motéis são peças que ultrapassam a mera publicidade.

Acho que nem eram coisas racionais dentro dos critérios de comunicação.

O Pinta, como diziam no passado, deve ter um parafuso a menos ou a mais e isso é que faz a diferença. Ele não pensa e não cria como os outros. A sua lógica, ou falta de lógica, é diferente. Ele é um ser anárquico que não segue os padrões habituais. Talvez até por isso não tenha se transformado num empresário de sucesso na área de propaganda, como tantos outros.

Nos conhecemos na Famecos, onde ele foi meu aluno, depois o acompanhei como concorrente em outras agências e nos reencontramos há pouco quando ele lançou uma nova ideia maluca, uma "rádia". Isso, uma rádio web feminina.

Por que estou escrevendo isso agora? Porque nós dois estamos num grupo de risco (velhos) e ele ainda está com problemas de coração no Hospital de Cardiologia. Espero que ainda estejamos vivos nos próximos anos, mas não custa deixar logo registrada a  admiração e um pouco de inveja, que tenho pelo seu talento.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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