Momento de alimentar os afetos

Por Márcia Martins

21/08/2025 11:30 / Atualizado em 21/08/2025 11:37
Momento de alimentar os afetos

Do nada, sem nenhum motivo aparente, volta e meia, uma luz se acende e indica que é o momento de alimentar os nossos afetos. De paparicar as pessoas que ocuparam, em algum instante da nossa já longa trajetória, lugar de destaque na nossa vida. De oferecer pequenas doses de carinho para quem, em muitas ocasiões, desmanchou-se em afagos com a gente. De repetir quantas vezes se fizer necessário como foi bom ter determinada pessoa no nosso passado, de como é gratificante ter o amigo ou a amiga ao nosso lado no presente, e de como será essencial ter a sua companhia no futuro que ainda me resta.

Porque a vida seria muito monótona, tediosa e, ouso dizer, até mesmo sem muito sentido, se fosse vivida na individualidade. Somos seres essencialmente sociais. Precisamos dos relacionamentos, de conhecer diferentes pessoas, de buscar a convergência de opiniões nos olhares com quem cruzamos e de aparar as divergências, sempre com amabilidade e gentileza. Assim se desenrola o dia a dia dos seres humanos. Uma mescla de encontros e desencontros. Um misto de amores e desamores. Uma coleção de sentimentos.

E as pessoas que passaram pelas nossas vidas e experimentaram os encontros e desencontros, que despertaram amores e desamores e dividiram conosco as emoções, necessitam, de vez em quando, da nossa atenção. Para reforçar a gratidão pelo que fizeram. Para preservar as lembranças. Para incentivar novos enredos. Porque a amizade, ou o amor, ou o companheirismo que nasceu algum dia, assim como as plantas, precisa ser regado. Não só para crescer e florir. Mas, principalmente, para sobreviver.

Pois a minha fase atual (não sei se pode ser algo relacionado à astrologia, uma travessura do mercúrio retrógrado ou a velhice mostrando suas angústias), é de rever pessoas que significaram algo na minha vida. E alimentar tais afetos. Para que permaneçam. Para que não me esqueçam. Para que me ajudem a lembrar de histórias. Para que me auxiliem a pavimentar novos caminhos. Para me apoiar em ousadias futuras. Para caminhar comigo nos dias ensolarados e conversar comigo nas noites chuvosas. Para reforçar que a vida presta sim.

Quero conversar com os amores que ainda machucam. E rever os que deixaram lembranças gostosas. Quero cativar de novo os amigos que não me procuram mais. E chamar com mais frequência aqueles que sempre dispõem de um tempo para os encontros, as reuniões, os cafés, as rodadas de chope, as taças de vinho, as caminhadas, os jogos de futebol. Quero, com urgência, alimentar os meus afetos.