Muitas felicidades

Não acredito. Juro que não pode ser verdade. Alguém pode me dar um beliscão bem forte para ver se não estou sonhando. Ai, tá …

Não acredito. Juro que não pode ser verdade. Alguém pode me dar um beliscão bem forte para ver se não estou sonhando. Ai, tá legal, mas não precisava ser com tanta força assim prá machucar. Como fiquei com o braço vermelhinho de ser beliscada, admito que é a mais pura realidade. Estou quase encerrando o meu período de inferno astral (sim, meu aniversário está próximo, hehehe? adoro isso), sem ter cruzado nenhuma vez com o diabo. Já estava preparada para mandar o satanás embora. Mas, foram os 30 dias talvez mais calmos (que eu me lembre) de minha existência que se aproxima dos enta com muita coisa ainda por fazer.


Carrego na minha bolsa tantos planos de felicidade. Anoto na minha agenda tantos compromissos que me trarão prazer. Elaboro os meus dias com projetos voltados para o crescimento/amadurecimento da minha filha Gabriela Martins Trezzi. Sei que ainda tenho muito a construir. Porque não pensar que ainda sou um ser em construção? Nada conseguirá me tirar do alto astral. Nem mesmo o perito do INSS, que, ignorando o atestado do meu amado e competente médico Dr. Eduardo Marques Corrêa, determinou que eu volte ao trabalho, ainda que eu não me sinta nem um pouco em condições plenas de saúde de enfrentar uma redação.


Apenas sei que quando assoprar as velinhas do meu bolo (hei, family, providencie uma torta surpresa, ok?), nem estarei pensando no passado pretérito, aquele que machuca, nos aborrecimentos, nos namoros mal resolvidos ou amores mal vividos, nos empregos que deixei, nas vezes em que poderia ter sido mais tolerante com a minha Gabriela agora adolescente ou nas ocasiões em que deveria ter sido mais solidária com o próximo. E, vou avisando, tá maluco e totalmente fora da casinha aquele que imaginar que revelarei a minha idade. Posso assegurar que estou amadurecida e isto é ótimo. E basta.


Envelhecer é totalmente diferente de se entregar, se enterrar, se enfurnar. Eu sinto-me cada dia mais disposta para ajudar a Gabriela nos temas mais puxados, a virar a noite dançando com os amigos, a fazer muita festa, a assistir ao jogo do meu time com os colegas da facul num bar da Cidade Baixa e agitar muito. É claro que não faço estas tarefas todos os dias da semana porque os anos me causam algum peso, mas ainda estou viva. Mas sei que estou plenamente viva quando ainda me emociono com coisas simples, como um beijo apertado da minha filha, um carinho dos sobrinhos, um flerte novo.


As rugas disfarçadas com os cremes revolucionários que são sinônimos de milagres me fazem lembrar somente coisas boas. A minha super infância muito bem curtida com meus irmãos e irmã naquela rua distante. A minha adolescência nas ruas do Bonfim (ah, se a Thomás Flores falasse?). O meu primeiro emprego no Jornal do Comércio. A minha consolidação profissional depois na Zero Hora. A minha militância política para ajudar a formatar um mundo melhor. O nascimento da minha filha. Seus primeiros passos. A primeira palavra de Gabriela, a formatura na creche, a adaptação no colégio e agora as primeiras baladas.


Comemorar mais um aniversário, no meu atual estágio de paz com a vida, é saber que já fui importante em muitos momentos, que a minha marca já ficou registrada em muitas pessoas, que o meu texto é lido por leitores e internautas inteligentes e que o futuro é agora. E tudo o que eu me desejo, quanta audácia desta jovem senhora geminiana, é muitas felicidades, muitos anos de vida, nesta data querida.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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