Não irão jamais nos calar

Por Márcia Martins

16/10/2025 10:30 / Atualizado em 16/10/2025 08:44
Não irão jamais nos calar

Havia me planejado a escrever uma coluna mais leve, sem entrar em temas ásperos. Talvez saudando estes dias primaveris, mas com cenários de verão. Mas a violência sofrida ontem (15/outubro) por vereadores e vereadoras, trabalhadores e trabalhadoras do Dmae, catadoras e catadores de materiais recicláveis, homens e mulheres, protagonizada pela Guarda Municipal, a mando da presidência da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, ocupada pela comandante Nádia (PL), precisa ser comentada. As cenas de truculência covarde com tiros e bombas são lamentáveis e não podem ser normalizadas.

Simplesmente porque a presidência da Câmara entendeu que a população não poderia ter acesso ao plenário para acompanhar o andamento de duas votações muito importantes para o futuro de Porto Alegre: a concessão parcial do Dmae à iniciativa privada e o Código Municipal de Limpeza, que interfere, de forma muito negativa, na atividade dos catadores da cidade. Incomodada com a voz do povo, a presidenta Nádia barrou a entrada na Câmara e afirmou, posteriormente, que estava adotando um novo protocolo de segurança e que ele será usado em dias de votação de projetos polêmicos.

Pois, ao que ficou demonstrado ontem, com a Guarda Municipal disparando balas de borracha e gás lacrimogênio em quem reclamava, na porta da Câmara, o acesso negado, o protocolo de segurança é impedir o acompanhamento das votações pela sociedade civil e, o mais preocupante e inaceitável, incentivar o uso de violência contra manifestantes e parlamentares.

Vereadores e vereadoras que tentavam negociar a entrada da população na "Casa do Povo" foram agredidos. Circulam nas redes registros de parlamentares feridos, sangrando, caindo ao chão diante de tamanha violência e truculência. Um aparato de repressão que mancha a história da Câmara.

E o que o povo, impedido de entrar no plenário da Câmara de Vereadores queria? Nada além do que acompanhar as votações da sessão de ontem, que iria abordar temas fundamentais para quem vive em Porto Alegre.

Não é possível aceitar passivamente uma atitude tão autoritária de quem preside a Câmara. Nada justifica o uso da violência. Não é admissível que a sociedade civil organizada não possa ter acesso ao andamento das sessões. Vivemos em uma democracia, mesmo que tal regime não agrade muito a presidência atual da Câmara. E, apesar de tudo, seguiremos atentos e atentas e não seremos calados e caladas jamais.

Finalizo com um trecho do poema No caminho com Maiakóvski: "dizem-nos que de nós emana o poder, mas sempre o temos contra nós, dizem-nos que é preciso defender nossos lares, mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados".