Não vamos falar sobre Grenal

Por José Antonio Vieira da Cunha

Já que o Grenal foi na Arena e dele não quero falar, vou comentar sobre o Beira-Rio e uma última experiência por lá. Experiência que vivi enquanto torcedor comum, diga-se, aquele que compra ingresso online e vai sentar direitinho na cadeira que escolheu. E a aventura não é nada boa, não, pois as confortáveis instalações oferecidas pela modernização do estádio ficam anuladas pelos descuidos dos gestores com alguns quesitos mínimos. 

Começa pelo acesso de automóvel ao estacionamento da Estapar, muito confuso e tumultuado apesar da dezena de orientadores disponíveis. Lá dentro, a área de gastronomia deixa a desejar. Cometi o desatino de comprar uma fatia de pizza que, só se descobre depois, saiu do forno no dia anterior e é servida fria e insossa feito uma borracha. 

Os tais stewarts, que abundam pelas dependências do estádio dando gentis e geralmente atenciosas orientações, desaparecem quando o jogo inicia. E então passa a imperar o salve-se quem puder; independente do fato de os torcedores nas cadeiras ficarem quase todo o tempo em pé devido à temperatura do jogo, dezenas de pessoas que literalmente não têm onde sentar, penetras que são naquele ambiente, ficam em pé nos corredores, atravancando o trânsito e dificultando a visão. Pode isso, Arnaldo? Não pode, e estes desconfortos evitáveis indicam que falta gestão no estádio do campeão de tudo.

E encontrei aqui nos guardados uma pensata que registrei ainda no ano passado, sobre um jogo do Inter em Florianópolis. Esta:

Caro leitor, tens ideia de qual a imagem do torcedor gaúcho lá fora? É muito pior do que se imagina, e agora mesmo, ao acompanhar a vitória do Inter sobre o Avaí na Ressacada, senti ao vivo o constrangimento por ser um deles, torcedor gaúcho. Durante a execução do Hino Nacional, a torcida do Colorado não deixou um segundo sequer de entoar outros hinos que não o brasileiro. Se este é um procedimento comum em Porto Alegre, lá fora não é nem um pouco não. Ao contrário, os torcedores avaianos levantaram, ficaram direcionados para a bandeira nacional e ouviram nosso Hino com o respeito que ele merece. Bem, ouviram é forma de dizer, pois a gauchada seguiu gritando e pulando e xingando, sabem eles quem ou o quê.

E a falada vergonha alheia, sabe?, senti agrandada por estar sintonizando a CBN local, e ter de ouvir seus profissionais condenarem o comportamento que os visitantes apresentavam. Um dos comentaristas disse qualquer coisa assim, até conformado: É, infelizmente todo o Brasil já sabe, a torcida gaúcha é assim mesmo, não sabem o que é respeitar o Hino Nacional.

E se isso provoca vergonha, o que se dizer do episódio com o Vinícius Jr. no fim de semana? O que a torcida do Valencia exibiu para o mundo foi uma atitude nojenta e inaceitável, menos para os próprios dirigentes do futebol espanhol, que tentaram minimizar as ofensas e, mais nojento ainda, no caso do presidente da Liga, viram mimimi do atleta em seu protesto. Por cartolas assim é que nada aconteceu nas nove vezes anteriores em que Vini Jr. foi ofendido no lindo país europeu que se traveste de racista e homofóbico. Nove, sabia? Agora, na décima vez, tomara que o caldo tenha entornado de vez.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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