O jornalismo como ele deveria ser

Por Grazielle Araujo

Talvez por ser jornalista diplomada, eu dê tanto valor para um profissional graduado. Independente da área, ao ingressarmos num curso de nível superior, teoricamente estamos mais preparados para o "mundo lá fora", na hora de colocar em prática nossas habilidades profissionais. Nas disciplinas da faculdade de jornalismo, aprendemos sobre conceitos, história, ética, imparcialidade, valores e respeito. Um microfone e uma caneta na mão, ainda mais nos dias de hoje, é quase um sinônimo de empoderamento. Para exercer tal função, precisamos constantemente relembrar essas e outras premissas que a comunicação traz consigo, muitas vezes dentro dos livros e repetida por professores capacitados. 

Porém, não é de agora que nos deparamos com comunicadores/apresentadores/anunciadores que são confundidos como jornalistas/repórteres. Precisamos refletir mais sobre isso. Por defesa da categoria, eu ouso afirmar. Não estamos todos no mesmo nível, pelo menos de conhecimento do ofício. Como aluna também diplomada da eterna Feplam - hoje chamada de OSCIP Padre Landell de Moura -, reconheço a importância de tal habilitação para exercício de funções em rádio e TV, chancelada com o título de radialista. A população leiga desconhece tal exigência e põe todos os que estão à frente desses veículos no mesmo barco. Em tempos de sentir-se representada, atitudes tomadas por alguns "formadores de opinião" enfraquecem o jornalismo sério e faz com que muitas pessoas definam a profissão erroneamente.

Minha intenção não é polemizar ou discriminar, de forma alguma. É somente esclarecer e reconhecer a aptidão de cada um para a função exercida. Em tempos de redes sociais, todos se sentem confortáveis e dispostos a emitir sua opinião, o que é válido diante da responsabilidade pessoal de cada perfil. Há quantos anos queríamos ser ouvidos/lidos/assistidos e não havia meios acessíveis para isso? Agora está na palma da nossa mão, a um clique do infinito mundo web, com a noção (ou falta de) pessoal de cada indivíduo. Ali, tá liberado. Sem censura, como a opinião do outro. Tenho visto cada vez menos televisão, ouvido mais rádio e lido notícias de jornais/sites éticos e comprometidos com a informação. Em tempos de fake news, ter a chancela de um veículo sério é garantia de veracidade dos fatos.

Jornalista tem time do coração, tem posicionamento político, tem vínculos, preferências e, claro, opinião. Assim como um arquiteto, um engenheiro, um advogado, um enfermeiro, um estilista. A única diferença é que ao repassar uma informação, precisamos ser imparciais. Já disse em outra coluna que há diferenças entre ser jornalista de veículo e de assessoria, mas o comprometimento não tenho dúvida que seja na mesma proporção. Também já refleti sobre trabalhar apenas com o compromisso pelo ofício ou casado com identificação, gostos, ideologias ou preferências. Mas isso é uma decisão pessoal antes ainda de aceitar tal atribuição. Pode aceitar ser assessor sem vínculos pessoais (eu não consigo) ou com marcas/pessoas que têm certa identificação. 

Nós, jornalistas, damos voz a algo. Não precisamos, necessariamente, concordar com o que noticiamos, o que não isenta de sermos fidedignos à informação repassada, seja qual for o público. Em tempos de coronavírus, temos acompanhado a "guerra de imprensa", principalmente a nível nacional. Que desprestígio para a nossa categoria, que pena mesmo. Há programas/emissoras que muita gente já admitiu deixar de assistir por ser contra ou a favor disso ou daquilo. Aí entrou o erro. Informação não é opinião, a não ser que seja uma coluna assinada, com nome e sobrenome. Ao expor sua opinião em um espaço como esse, sabe-se das consequências. Jornalismo informativo não pode ter lado.  

Para finalizar, trago mais uma reflexão quando falamos de entrevistas, principalmente quando for ao vivo: a importância do alinhamento entre a produção e assessoria (antes de uma entrevista começar e o jornalista entende o valor disso), o respeito, a isenção e o ego. Sim, o ego. Entrevistador não é o protagonista em uma entrevista e nem deve ser, por respeito ao entrevistado, principalmente. Nessas horas, em que alguém fala o que quer, corre-se o risco de ouvir o que não quer. Daí, meus caros, em tempos de redes sociais, resgatando o que escrevi ali em cima quando citei que muitos se sentem encorajados a expor suas opiniões, vêm os memes, os haters, os que preferem criticar, os que se orgulham e os limites tornam-se meros desconhecidos. Com isso, cada um escolhe qual camiseta vestir e arca com as consequências de tal exposição. Jornalismo é feito por jornalistas. O restante é uma questão de opinião.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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