O Partido do Exército

Por Marino Boeira

O grande partido político brasileiro se chama Partido do Exército.

Sua hegemonia começou com o advento da República em 1889 e veio se consolidando com o passar dos anos.

Inicialmente era um partido segmentado em várias correntes de pensamento e com objetivos diferentes. Essa fragmentação se tornou explícita na década de 20, quando os segmentos mais baixos da oficialidade se tornaram, em grande parte revolucionários.

O fato mais revelador dessa tendência foi a Coluna Prestes.

Com o governo Vargas, começou a consolidação do Exército como o partido da Ordem, embora ainda houvesse focos de subversão dele, como foi o caso do movimento de 1935 feito sob a liderança da Aliança Nacional Libertadora e com a presença forte de militares.

Com o início da Guerra Fria e a polarização do mundo entre dois caminhos opostos - o socialismo e o capitalismo - o Exército Brasileiro foi cada vez mais sendo usado como uma poderosa força destinada a manter o status quo, não importando mais quanto isso significasse de injustiças sociais.

Sob influência direta dos Estados Unidos, que começaram a treinar os oficiais brasileiros, o Exército se tornou um partido de centro de direita, destinado a preservar a ordem social na medida em que representava apenas o interesse do imperialismo.

A última vez em que o Exército se dividiu foi em 1961 com o movimento da Legalidade.

Três anos depois, ele decidiu que não mais seria representado no poder por políticos civis e assumiu o governo por longos 21 anos e só deixou o comando do país para os civis, quando um grande pacto o transformou num moderno Poder Moderador, pronto para intervir em casos que achasse necessário..

Isso ocorreu recentemente, quando o seu comandante, o general Villas Boas interveio diretamente no pleito eleitoral que se aproximava, garantindo o afastamento do candidato indesejado - Lula - e assegurando a possibilidade de vitória do candidato preferido - Bolsonaro.

Nos dias atuais, mais do que nunca, é o Partido do Exército a grande força de sustentação de um dos governos mais incapaz e corrupto da vida política brasileira.

Nesses mais de 100 anos de República, outros partidos foram se formando e em algum momento,tiveram grande importância política o Brasil.

Vamos falar de alguns deles.

O Partido Religioso sempre foi um dos mais ativos.

Representado pela Igreja Católica, inicialmente, ele agiu durante muito tempo como linha auxiliar dos governos conservadores , como na ditadura de Vargas, mas depois assumiu um papel ativo na preparação do golpe de 64, quando mobilizou multidões contra o governo Jango.

Durante a ditadura a Igreja Católica perdeu a sua unidade interna, com o surgimento de forças de esquerda no seu seio e hoje tem pouca importância na definição dos rumos do Pais.

Quem comanda o Partido Religioso no Brasil são as igrejas evangélicas. Cabe a elas um papel muito claro: mobilizar seus crentes em defesa de políticos populistas de direita e assumir o papel que foi da Igreja Católica de funcionar como o verdadeiro ópio do povo.

Outro grande partido que só tem crescido na vida política brasileira é o Partido da Mídia. Com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação, primeiro o rádio, depois da televisão e agora as chamadas mídias sociais, o Partido da Mídia se tornou um agente político de grande expressão. Até há poucos atrás mobilizado na defesa dos interesses da alta burguesia e do imperialismo, sua fragmentação atual e a concorrência entre seus representantes, tem feito diminuir sua capacidade de atuar numa só direção.

Finalmente, o outro grande partido, que deveria historicamente liderar a maior parcela da população é o Partido Operário, que foi com o passar dos anos perdendo sua força política.

Seu período de maior expressão foram anos que se iniciaram com o governo democrático de Vargas em 1950 e se prolongaram até o golpe de 64.

Principalmente durante o governo de João Goulart, por inspiração dos comunistas, o Partido Operário ganhou enorme força nas decisões políticas do período. Suas lideranças, com os primeiros embriões das centrais sindicais (o CGT foi criado em 1962) eram ativas participantes das decisões políticas.

Com o golpe de 64 e a ditadura militar, o Partido Operário foi dizimado e sua vocação revolucionária, ao menos na teoria, liquidada. O que surgiu durante a ditadura e ganhou força depois da democratização, foi um Partido Operário dirigido por sindicatos que ajudaram a consolidar o sistema capitalista.

Sob a liderança do PT, o Partido Operário ganhou extraordinária força eleitoral, mas sempre operou dentro das regras do sistema, se limitando a pleitos de cunho salarial.

A margem da lei e fora de um caráter público, crescem outros partidos que vão ganhando força na vida brasileira e começam a influir na sua vida política. Dois deles podem ser lembrados, o Partido das Milícias, usado como força auxiliar pelo governo Bolsonaro e pelos governos estaduais afins, principalmente no caso do Rio de Janeiro e o Partido Bandido, que começou centrado no Jogo do Bicho (no Rio era o grande promotor do carnaval) e que migrou para o tráfico de drogas.

Caso alguém lembre o Partido Parlamentar, o Partido dos Negociantes ou o Partido da Justiça, é bom que se diga que seus líderes representam, em suas origens, os partidos do Exército, da Mídia e da Religião e politicamente agem na defesa dos seus interesses específicos.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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