Recentemente, foi lançado um equipamento que permite ao telespectador "pular" os comerciais de TV. Agora, a RCA incluiu em alguns de seus aparelhos de DVD um software chamado Clear Play, através do qual o telespectador (este nome terá que ser mudado, tendo em vista que ele está deixando de ser mero espectador) pode definir o nível (intensidade) de cenas de violência, sexo, nudez, etc, que ele quer assistir. Ou ao que quer que seus filhos assistam.
A pergunta que não quer calar é: o que as pessoas estão querendo assistir na TV? Se estes equipamentos estão sendo criados, há uma grande possibilidade de as redes de TV não estarem oferecendo a programação que os telespectadores querem assistir.
Por outro lado, há um paradoxo: as pessoas não querem cenas de violência, de sexo. Mas quando estes dois temas estão no ar, há recordes de audiência. Uma explicação para este fenômeno é que sexo e violência fazem parte de nossos instintos primitivos, digamos assim. Todos temos desejos sexuais (a pesquisa recentemente divulgada pela CNBB de que 41% dos padres já tiveram algum envolvimento sexual comprova isto) e todos temos impulsos violentos. Porém, como vivemos em um mundo cheio de regras, o nosso superego (a nossa censura interna) se impõe e nos impede de darmos vazão a estes sentimentos. Até porque, se déssemos, voltaríamos à Era das Cavernas..
Como temos estes instintos travados pela censura, os "destravamos" através de situações como a da TV, quando a Maria Clara (a mocinha da novela Celebridade) espanca a Laura (a personagem má). Vibramos com a cena, não tanto por ela em si, mas por ela reforçar na gente o sentimento de que o bem vai vencer o mal, sim. Ou seja, nos realizamos através de outro. O que é o nosso regozijo com a vitória de um atleta (Daiane, Guga), senão a felicidade de saber que aquela pessoa venceu as adversidades e que, enfrentar grandes dificuldades e obstáculos e vencer é algo possível (Daiane foi revelada aos 12 anos, vem de família humilde; Guga perdeu cedo seu pai), ao alcance de nós, mortais?
Quando vemos uma cena de violência na TV, mesmo que protagonizada pela mocinha, estamos diante de algo que dificilmente faríamos. Acharíamos inaceitável, em função de já termos internalizado valores civilizados. Por isto que, ao mesmo tempo em que vemos estas cenas, também terminamos "não querendo" vê-las. Ou não mostrá-las aos nossos filhos.
Porque mostrar estas cenas e admitir que gostamos de vê-las seria mostrar um lado feio, selvagem, do ser humano. Seria admitir que temos este lado feio dentro de nós. Que temos, muitas vezes, vontade de espancar e de matar, de fazer sexo fora dos padrões socialmente aceitáveis. Não o fazemos porque estes desejos primitivos passam pelo filtro de nossa civilização.
Engraçados, nós. Vemos sem querer ver, vibramos escondidos. A sociedade higiênica que cria máquinas mortíferas. Por isto, reforço a pergunta: o que você quer ver na sua TV?
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