O Vírus do Ipiranga

(A partir da letra de Joaquim Osório Duque Estrada)

 

O vírus do Ipiranga nas margens pútridas

Do povo estóico o brado: saneamento!

E a insalubridade em valas múltiplas,

Manchou ao léu a pátria nesse relento

 

Se o fedor dessa desigualdade

Conseguimos disfarçar com pinho forte,

Em teu meio, ó sociedade,

Epidemia é o nosso jeito desde a Corte

 

Ó pátria atrasada,

mal-vacinada,

Salve, salve-se!

 

Brasil, um surto imenso, quadro típico

De pólio e leptospirose a terra cresce,

Em teu raivoso céu, tristonho e fatídico,

A lembrança do barbeiro recrudesce

 

Distante, a vigilância sanitária,

É tifo, tétano, dengue hemorrágica,

E o teu futuro espera tanta malária

 

Terra incurada,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó pátria mal administrada!

Dos filhos deste solo és mãe senil,

Pátria atrasada,

Brasil!

 

II

Acamado eternamente em brejo esplêndido,

Com esquistossomose e males profundos

Reinauguras, ó Brasil, vibrião da cólera,

Contaminado no rol de rios imundos!

 

Do que a terra com mais pragas

Teus bisonhos governantes têm mais papo;

Nossos cofres mais larápios,

Nossos pobres sem esgoto têm mais chagas

 

Ó pátria atrasada,

mal-vacinada,

Salve, salve-se!

 

Brasil, bolor interno e sujo êmbolo

O micróbio que sustentas tá criado

Te liga, a febre amarela leva ao túmulo,

jaz no monturo e volta ao passado

 

Mas se segues o paludismo como norte

Verás que os filhos teus aceitam o luto

Agora é brasileira a própria Morte

 

Terra incurada,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó pátria mal administrada!

Dos filhos deste solo és mãe senil,

Pátria atrasada,

Brasil!

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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