Os dilemas financeiros da dupla Gre-Nal

Por Rafael Cechin

Somos coadjuvantes. Não é pessimismo, é a realidade em um 2024 afetado pela enchente mas também por erros de gestão na dupla Gre-Nal. Para a próxima temporada, esperamos que pouca coisa se repita. Tudo começa agora, em outubro. Com planejamento e, principalmente, pensando nas finanças, os dois clubes precisam tomar decisões importantes para um ano que vem mais feliz às suas torcidas.

No lado tricolor a grande questão envolve um dos patrocínios mais importantes hoje: o do site de apostas. As bets sofreram eliminações recentes com a regularização por parte do governo federal. Muitas sumiram. Pros lados da Arena, surgiu a ameaça de perder o bom dinheiro da Esportes da Sorte. Fator fundamental para trazer Luís Suarez no ano passado, a empresa conseguiu ser regulamentada essa semana, mas ainda passa por uma onda nacional de escândalos envolvendo investigações de lavagem de dinheiro com artistas.

No futebol, outros grandes da Série A passaram pelo mesmo problema. O sempre revolucionário Athletico-PR imediatamente abandonou o patrocinador. A normalização do funcionamento do site de apostas não indica certezas, porque os seus donos estão presos. Persiste o suspense se a grana fica ou não para os gremistas para 2025. Claro que não será o fim do mundo se a Esportes da Sorte sair. Os seus concorrentes virão com tudo para disputar o espaço na camiseta e em outros produtos do tricolor. A questão é a ameaça de ganhar menos do que atualmente.

O Inter enfrenta outro tipo de dilema no último trimestre deste ano. Bem maior e mais complexo, inclusive. Aprovada em 2023 pelo Conselho Deliberativo, após ampla discussão política, a entrada do clube na Liga Forte União (LFU) trouxe a definição sobre quem toma conta de 20% de propriedades comerciais envolvendo a participação em campeonatos no Brasil. O efeito mais importante recai sobre os direitos de transmissão de TV e streaming, há décadas uma fonte primordial de receita no esporte.

O contrato firmado com investidores da LFU injetou de cara mais de R$ 100 milhões nos cofres, o que serviu para contratar reforços e abater parte da dívida gigantesca, reduzindo os juros sobre ela. A novidade é que, sem embalar na comercialização dos principais produtos, os clubes integrantes anunciaram no último mês que o percentual destinado à Liga cai de 20% para 10%. Isso provoca duas consequências imediatas: a devolução de parte do valor já recebido pelo Inter e um esforço maior ainda na busca de parceiros para trazer dinheiro aos colorados no ano que vem, quando inclusive se encerra o vínculo atual para transmissão de jogos com a Globo.

Importantíssimo que as direções da dupla Gre-Nal ajam rapidamente. Não dá para esperar que tudo se resolva apenas ali em 2025, sob pena de comprometer a renda já complicada de ambos. Para voltar a ser protagonista, precisa melhorar as finanças. No mínimo, não piorar. A reta final do Brasileirão até parece estar bem encaminhada, com o Inter lutando por Libertadores e o Grêmio evitando sustos contra o rebaixamento. Mas para a gangorra não basta. A gente merece algo a mais. Títulos? Só com as questões de grana bem resolvidas rapidamente.

 

Autor
Jornalista graduado e pós-graduado em gestão estratégica de negócios. Atua há mais de 25 anos no mercado de comunicação, com passagem por duas décadas pelo Grupo RBS, onde ocupou diversas funções na reportagem, produção e apresentação, se tornando gestor de processos e pessoas. Comandou o esporte de GZH, Rádio Gaúcha, ZH e Diário Gaúcho até 2020, quando passou a se dedicar à própria empresa de consultoria. Ocupou também, do início de 2022 ao final de 2023, o cargo de Diretor Executivo de Comunicação no Sport Club Internacional. Atualmente mantém a própria empresa, na qual desde 2021 é sócio da Coletiva,rádio, e é Gerente de jornalismo e esporte da Rádio Guaíba.

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