Palavreando

Por José Antonio Moraes de Oliveira

10/07/2025 18:19 / Atualizado em 10/07/2025 18:20
Palavreando

"Palavras duram mais que pedras". 

(De um poema do século XIX).

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Foram milhares de palavras cobrindo centenas de páginas. Mesmo assim, sei que não escrevi o que pretendia escrever. E me assombra saber que, em algum lugar, palavras verdadeiras aguardam quem as escreva. Neste exato momento em que alguém lê estas palavras sinto não dizem o que deveriam dizer.

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É uma sensação estranha, um certo desassossego saber que as centenas de milhares (ou milhões?) de palavras que venho escrevendo ao longo dos anos foram levadas pelo vento e não significam mais nada.

Quantas páginas foram? Em forma de reportagens, noticiários, anúncios, textos para rádio, discursos para políticos. Não tem como saber. Tudo começou com singelas redações na escola, saudadas com elogios da Dona Amanda, minha professora de óculos gatinho. Depois, vieram as historietas em quadrinhos com um inventado Homem Bala que não foi além de rascunhos e rabiscos.           

Adiante, textos pretenciosos no jornalzinho do Ginásio Rosário, tentando replicar Machado de Assis. Tolices que custaram metade da generosa mesada do padrinho Armando.

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Chegam as madrugadas insones sobre a pequena Olivetti, portátil, presente de Natal de minha mulher. O tempo roda e me vejo dedilhando em uma das pesadas e barulhentas Underwoods da redação do jornal. Em bom tempo, trocada pelos novos encantos digitais de um primeiro Macintosh. 

Estes vagos fragmentos do tempo voltam sem que eu os invoque, nem os queira rever. Mas sonhos terminam, a noite chega e os olhos sentem o cansaço. Quando tento reler os escritos, ouço a pergunta de sempre:

" - De onde vieram estas estranhas palavras?

Fui eu mesmo que escrevi isso?"

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