Pela adoção de mais praças em Porto Alegre

Por Márcia Martins

Na segunda-feira, 16 de setembro, completei um mês de endereço novo. Como já escrevi em várias colunas aqui no portal, deixei a comodidade e o brilho do bairro Bom Fim, que me acolheu, em épocas alternadas e me abrigou em diferentes ruas, desde 1981, para a agitação e o nervosismo da Cidade Baixa. Nunca havia pensado antes nestas duas hipóteses: sair do Bom Fim e morar na Cidade Baixa. Mas, por inúmeros motivos, foi a opção escolhida e a alternativa foi realizar as adaptações necessárias para que a troca de bairros não fosse traumática e aceitável para os envolvidos. No caso, esta que vos escreve e o cusco Quincas Fernando Martins, cachorro meu e da minha filha Gabriela, e que vive em sistema de guarda compartilhada entre nós duas.

Foi preciso (e ainda é) acostumar-me com o barulho intenso dos ônibus que rompem o silêncio da manhã tão logo os primeiros raios de sol se anunciam e ocupam as duas vias da avenida. Foi necessário (e ainda é) caminhar pelas ruas da Cidade Baixa com a meta de descobrir os mercadinhos, os armazéns, os bancos, os cafés e as opções de lazer, de comércio e os serviços. Foi obrigatório (e ainda é) saber que o sono, nas manhãs de domingo, será interrompido pelas vozes elevadas das conversas dos guardadores de carros que ficam à espreita do movimento de veículos de clientes de três restaurantes próximos ao apartamento. Logo, as adaptações citadas acima e outras têm sido feitas para que tudo ocorra sem alterações tão abruptas.

Mas o cão Quincas estranhou demais todo o processo. Desde a sua adoção, em 4 de fevereiro de 2018, acostumado a morar num apartamento mais amplo, de dois dormitórios e com os carinhos da vovó Márcia e da mãe Gabriela, teve a rotina mudada. Além da guarda compartilhada, ganhou uma nova mãe (a namorada da Gabriela), um novo apartamento e menor no bairro Jardim Botânico, onde minha filha e a namorada moram, e um apartamento menor e barulhento no bairro Cidade Baixa. Carinho em dobro, doses de floral de adaptação, brinquedos para distraí-lo, troca de hábitos e Quincas, com certeza, dos três (eu, Gabriela e ele) foi o que mais sentiu a mudança e mostrou sua insatisfação fazendo pequenas artes nas portas do meu apartamento.

Para acalmá-lo e ouvindo conselhos, resolvi levá-lo regularmente para gastar energia numa praça localizada bem perto da nova casa. Encravada no encontro dos bairros Cidade Baixa, Azenha, Menino Deus, a Praça Garibaldi tornou-se ponto obrigatório do Quincas pelo menos duas vezes ao dia. Nas primeiras vezes, solto no cachorródromo, que faz limite com o pátio da Escola Municipal de Educação Infantil Jardim da Praça Cantinho Amigo, o cusco corria de um lado ao outro, alucinado, feliz, cheirando tudo e brincando com os cachorrinhos (as) amigos (as) que também iam lá se divertir. Com a assiduidade, percebi que o cachorródromo nunca era limpo. Fezes humanas, restos de comidas, seringas e outros objetos de usuários de drogas.

Sei que não é correto, mas passei a levar o Quincas (repetindo atitude de outros pais e mães de caninos) ao cantinho de brinquedos das crianças ao lado do cachorródromo. Ali, o cenário apresentava-se mais higiênico um pouco. Claro que respeitando a função inicial do local e abandonando-o sempre que chegava alguma criança para usufrui-lo. Pois desde sábado, repousa num canto dentro da praça dos brinquedos o corpo de um rato morto, em decomposição, e cercado de insetos que farejam o bicho. Na manhã de terça, num raro intervalo da chuva, levei Quincas à praça. E mais uma vez, não foi possível entrar no cantinho dos brinquedos porque o rato continua lá. Apesar da "limpeza" feita pelos funcionários contratados ou terceirizados pela Prefeitura na segunda-feira e que, certamente, preferiram ignorar a praça das crianças.

Ao comentar o fato com um habitual frequentador da praça com sua cachorra que adora brincar com o Quincas, ele me disse que ficou sabendo pelo vizinho do tio da irmã da amiga que a praça seria adotada. Então, a Praça Garibaldi, limitada pelas ruas Lobo da Costa, José do Patrocínio, Venâncio Aires e Érico Verissimo, com suas belas árvores, seu monumento em homenagem a Giuseppe e Anita Garibaldi, seus caminhões para transportes de móveis e os moradores de rua, vai merecer a atenção da iniciativa privada, cumprindo um papel não exercido pela Prefeitura. O logradouro será cuidado pelo Grupo Ambev, dentro do Programa Adote Uma Praça, que existe desde 1986.

Parabéns à iniciativa da Ambev. Parabéns à Prefeitura que manteve um programa que atravessa gestões e que não foi interrompido por ter sido pensado por um partido diferente ao que está atualmente no poder. Parabéns à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade pela assinatura do termo de adoção. Quincas, Chanel, Mujica, Quebec, Moreno e os demais caninos e caninos que poderão voltar a correr pelo cachorródromo, com certeza, agradecem. As crianças que não podem usar todos os brinquedos do seu canto pelo péssimo estado de conservação também agradecem e esperam logo poder usufruir de todo o espaço. Os alunos da escolinha Jardim da Praça Cantinho Amigo vão poder respirar um pouco sem sentir o fedor que exala da falta de limpeza do cachorródromo. Os moradores do entorno agradecem.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários