Peninha: rebelde até certo ponto

Por Marino Boeira

O personagem da semana que passou foi Eduardo Bueno, o Peninha. Há muito que ele faz com sucesso o papel do "l´enfant terrible" da nossa mídia. Se auto intitulando "historiador" quando não passa de um jornalista astuto que descobriu um filão: o de reinterpretar fatos do passado e do cotidiano sob uma ótica anárquica.

No sempre bem comportado jornalismo gaúcho, ele representou uma rebeldia consentida. Era como aquele garoto travesso de uma família tradicional exibido aos visitantes como uma prova de tolerância com os diferentes. Num grupo de comunicação conservador como sempre foi a RBS ele representava uma pequena contravenção apresentada como prova do espírito democrático dos donos da empresa. Peninha sempre soube onde exercitar seu talento de jornalista alternativo.

Quando, por exemplo, elogiava a violência do jogador Dinho do grêmio, as pessoas achavam graça, fossem gremistas ou colorados. Peninha foi ganhando espaço e prestigio nas redes sociais até que semana passada ultrapassou uma fronteira. Ao falar sobre a morte de Charles Kirk, o exaltado defensor das teses da extrema direita norte-americana, ele comemorou essa morte de uma maneira que seus seguidores consideraram demasiada. Peninha esqueceu uma das regras de ouro da maioria dos gaúchos: quem morre, por pior que tenha sido em vida, é perdoado, quando não vira herói. Os exaltados adeptos esquerda liberal que ocupam as páginas do facebook clamando para que Bolsonaro seja preso e "apodreça na prisão", destino pior do que a morte, dessa  vez o criticaram.

Ele sentiu o golpe e desceu do seu pedestal. Primeiro se justificou: "Eu deveria ter escrito sobre esta criatura desprezível que foi assassinada. Embora o assassinato sempre seja algo a ser lamentado, o mundo sem a presença de certas pessoas, como Hitler e Stalin - embora ele (Kirk) não tenha o mesmo alcance que esses aí - é um lugar que fica melhor. E é um lugar que fica melhor com pessoas do meu tipo". Depois se desculpou: "Os deslizes e excessos eventualmente nos incitam e empurram, e não restam dúvidas que cometi. Estou aqui para fazer retratação seguida de poréns".

Hoje, a unanimidade dos petistas que o apoiava rachou e a direita aproveitou para atacar seus pontos frágeis. Sites dessa linha política divulgaram que suas críticas à direita não são tão desinteressadas assim. Dois fatos foram revelados para tentar mostrar sua identificação com o atual governo do PT: a Caixa  Federal assinou um contrato de mais de 3 milhões de reais para que ele reescreva textos sobre a instituição bancária e os transforme num livro e que ele faz parte de um até então desconhecido Conselho Editorial do Senado presidido pelo senador petista Randolfe Rodrigues que teria pago suas despesas em pelo menos duas viagens.

Vamos continuar acompanhando os passos de Peninha nos meios de comunicação e ver qual vai ser sua próxima rebeldia.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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