Pilares da Terra
Por José Antônio Moraes de Oliveira
"A catedral de Notre-Dame de Paris, uma das maiores realizações da nossa civilização, estava em chamas. Aquela visão me deixou estupefato e profundamente perturbado. Fiquei à beira das lágrimas. Algo inestimável estava morrendo diante dos meus olhos. Foi uma sensação desconcertante, como se os pilares da terra estivessem tremendo."
Ken Follett.
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O escritor François Mauriac, que se dizia agnóstico, afirmava que a Catedral de Notre-Dame de Paris era uma Ave Maria em Pedra.
Agora, a veneranda catedral reabre suas portas depois de cinco anos de interdição, aprimorada em sua antiga glória por um extraordinário trabalho de restauração e restauro. As pedras claras de granito, o mobiliário em bronze e a luz litúrgica que vaza dos vitrais revivem este lugar único, convidando à oração e à reflexão.
A reabertura de Notre-Dame é um testemunho de um esforço coletivo monumental, envolvendo o comprometimento da Igreja, do Estado, de patronos empresariais, das equipes de artesãos, artistas e dos voluntários anônimos.
E finamente, foi alcançado o desafio de refazer em cinco anos o monumento que levou mais de dois séculos para ser construído. Uma conquista que ilustra o que a unidade e a mobilização podem diante da adversidade.
A catedral de Notre-Dame não é apenas um templo de 860 anos., mas um pacto renovado entre Finitude e Eternidade, entre Deus e a Humanidade. A reabertura que estamos assistindo é muito mais do que um evento de gala. É um momento único no tempo, em que nossa civilização materializada se volta para sua história e se restitui às suas origens, ao seu berço de nascimento.
A Notre-Dame renascida lembra que como todos, religiosos ou ateus, somos parte de uma ressurreição.
A construção de Notre-Dame começou em 1163, pelos mãos do bispo Maurice de Sully durante o reinado do rei Luis VII e apenas concluída 200 anos depois. Foi construída no centro espiritual de Paris, a Île de la Cité sobre as fundações de uma antiga igreja românica.
Ao longo dos séculos, foi o cenário de grandes eventos históricos, como a coroação de Napoleão Bonaparte e a beatificação de Joana D'Arc. A catedral passou por várias reformas nos séculos XVIII e XIX, quando o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc restaurou detalhes góticos e construiu a grande agulha destinada para acolher algumas das relíquias mais importantes da Cristandade.
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Por questões de segurança, pouco se divulga sobre as relíquias, mas se sabe que inclui a túnica de São Luís, um dos reis mais famosos da França. Mas o bem mais precioso de Notre Dame, que sobreviveu aos desastres e incêndios, é a coroa de espinhos, que se acredita ter sido colocada na cabeça de Jesus Cristo antes de sua crucificação.
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