Praga televisiva

Por Flávio Dutra

06/05/2019 14:16

O ?este especialista? virou figurinha carimbada nos principais telejornais, verdadeira praga televisiva, embora batam ponto também nas rádios e jornais.  Não é novo o expediente das editorias de apelar para um expert a fim de dar embasamento e credibilidade à determinada matéria, mais ainda se o tema tratado é de natureza técnica. O que mudou foi a intensidade com que o ?este especialista? passou a ser acionado agora. Economia e finanças, educação, cultura, segurança pública, política internacional, logística e infraestrutura, sexo dos anjos, para todos os temas sempre existe um especialista de plantão, pronto para despejar suas verdades sobre nós.

Especialmente na Rede Globo, que está em guerra aberta contra o governo Bolsonaro, o ?este especialista? aparece em uma matéria sim e em outra também quando se trata de questionar alguma política governamental. No caso, o ?este especialista? acaba fazendo o papel de laranja do editorial da Globo. Não acredito que a maioria deles se preste conscientemente a esse papel, mas é assim que funciona. Penso mesmo que o governo Bolsonaro tem se mostrado tão errático, tão confuso, tão despreparado que nem precisaria do ?este especialista? para desqualificar o que vem sendo anunciado como propostas de governo.

Recrutados na academia ou nas ONGs, o ?este especialista?, acostumado a longas dissertações, acaba vítima das edições nos telejornais, que reservam poucos segundos ? preciosos segundos televisivos ? para aquela solução que vai se contrapor à pauta oficial origem da reportagem. E o resultado é um festival de obviedades e de soluções inviáveis, pois os doutos senhores estão descompromissados com a realidade. Entre o pensar da academia e o fazer da vida real vai uma enorme distância, que os vaidosos opiniáticos não levam em conta.

Durante o período eleitoral, vários deles ? cientistas políticos, sociólogos e afins ? circularam nos espaços da mídia, tentando explicar o comportamento do eleitor com teses que não sobreviveram à abertura das urnas. O pior é quando passam a dar opiniões sobre coisas mais concretas, obras públicas por exemplo. O ?este especialista? consultado sempre tem a solução mais fabulosa e arrojada para os problemas, não importando se existem recursos e viabilidade para a execução do faraônico projeto. Mas a ideia proposta passa a ser definitiva, inquestionável e ai de quem ouse pensar diferente. O nome desta postura chama-se desonestidade intelectual, pecado dos sectários e donos da verdade.

A responsabilidade primeira sobre esse processo, vale reprisar, não é dos tais consultores, mas de quem os contrata e aciona. A mídia parece envergonhada de assumir determinadas posições e busca respaldo na opinião do ?este especialista? para reforçar o que, na verdade, pretende passar. Em outros casos, procura dar um verniz erudito a determinados temas, de forma a valorizá-los. E o que constatamos, na maioria das vezes, repito, é um festival de obviedades, o primado do achismo, nivelando-se aos piores debates esportivos. Nestes, pelo menos, permite-se o contraditório.