Quanto maior a desconfiança, menor a crença

Por Elis Radmann

08/01/2019 15:27

Uma pesquisa realizada pelo Latinobarómetro em 28 países da América Latina, em 2018, indicou que os brasileiros são os mais insatisfeitos com a democracia: apenas 13% se consideram muito satisfeitos ou satisfeitos com a democracia brasileira. A desconfiança com a democracia está associada à desconfiança dos seus representantes, e, neste quesito, o Brasil ocupa o penúltimo lugar. Em 2018, somente 11% da população confiavam no Congresso Nacional. E esta percepção negativa é resultante de três fatores: corrupção, clientelismo político (que favorece o grupo ligado ao político) e a ineficiência dos serviços públicos (situação cada vez mais agravada na saúde, segurança, educação e infraestrutura).

O Brasil também fica nos últimos lugares quando o tema é confiança entre as pessoas: apenas 7% responderam positivamente à pergunta ?É possível confiar na maioria das pessoas??.

A desconfiança entre as pessoas está associada e, é ampliada, pela desconfiança da população com os líderes políticos. Quanto maior é o descaso dos políticos com a sociedade, menor é o sentimento de coletividade, de comunidade. E o individualismo é potencializado quando as pessoas precisam ?se virar sozinhas? para conseguir direitos que são ignorados ou negados pelo Estado.

No início de cada mandato, renovam-se as esperanças e se reposicionam as expectativas. Neste momento, a opinião pública tende a dar um ?salvo conduto? aos eleitos, desejando que o próximo governo seja melhor que o seu antecessor.

Pesquisa realizada pelo Datafolha em dezembro de 2018 indicou que 65% dos brasileiros têm uma expectativa positiva com o futuro governo de Bolsonaro. Sendo que entre os eleitores de Bolsonaro a expectativa é de 88%.

Segundo o Datafolha, esta é a menor expectativa com um presidente eleito deste a reabertura política: Collor 71%; FHC 70%; Lula 76%; Dilma 73%.

Quando o quesito é a comparação, 76% avaliam que Bolsonaro será melhor do que Temer; 73% acreditam que ele será melhor do que Dilma, para 58% será melhor do que Lula e 56% acreditam que será melhor do que FHC.

Quando questionados sobre a prioridade para o Brasil, a população afirma que deveria ser a saúde, com 40%, educação com 18% e segurança com 16%. Quando se questiona a expectativa com a área que Bolsonaro ?vai se sair melhor?, os brasileiros acreditam que será na segurança, o combate à violência. Ao contrário, a expectativa é que as áreas que o presidente ?vai se sair pior? são a educação (14%) e saúde (13%).

Estes números que sistematizam a percepção da opinião pública são importantes para compreensão do momento em que vivemos e reflexão sobre o papel de cada um de nós neste processo.

1) Bolsonaro tem a menor expectativa de um presidente eleito, pois assume em um momento de baixa satisfação da população com a democracia, com seus líderes e consigo mesmo (não confiamos uns nos outros).

2) O brasileiro tem uma lista de prioridades (como saúde e educação) que são conscientemente relegadas a segundo plano, na aposta de que o presidente eleito combata duramente a corrupção, acabe com privilégios e minimize a violência.

O desejo da sociedade é para que haja uma ação no cerne do problema, na fonte histórica que alimenta o câncer da política brasileira. Afinal de contas, se a corrupção, se os privilégios e se os conluios não forem repelidos não acabaremos com o eterno dilema da falta de recursos.