Ruas, becos e vielas

Por José Antônio Moraes de Oliveira

11/05/2023 17:14 / Atualizado em 11/05/2023 17:13
Ruas, becos e vielas

?Quando eu sonhava, era assim. 

Essa imagem fugidia 

Que nunca pude alcançar.?

Almeida Garrett.

***

Até mesmo os frequentadores mais assíduos de Lisboa se dizem fascinados pelos nomes das ruas e praças da capital de Portugal. Um conhecido fadista da Alfama, Rodrigo Costa Felix, que canta e encanta turistas no Clube do Fado, na Rua de Saudade, diz ser um apaixonado pelas coisas de Lisboa. Para ele, as denominações às vezes estranhas e misteriosas das ruas, becos, vielas refletem a alma lisboeta. E lembra o que cantava o poeta António Nobre:

"Ó Lisboa das ruas misteriosas!

Da Triste Feia, de João de Deus,

Beco da Índia, Rua das Fermosas,

Beco do Imaginário, dos Judeus,

Travessa das Isabéis,

E outras mais que vós sabeis."

***

Outro poeta, o grande Fernando Pessoa, sempre lembrava da Baixa de Lisboa, bairro onde passou grande parte de sua vida. Em seus poemas evoca alguns dos lugares pelos quais passeava, escrevia ou trabalhava. E como o heterônimo Bernardo Soares, não esquece de onde compôs seu 'Livro do Desassossego': 

?Se eu tivesse o mundo na mão, trocava-o,

por um bilhete para a Rua dos Douradores.?

Ele relata que conheceu Bernardo Soares em uma Casa de Pasto que ambos frequentavam no Rossio. Não revela o nome do lugar, mas deve ter sido no Café Martinho da Arcada ou em um dos muitos e tradicionais cafés que por lá existiam, na Rua da Prata, Rua de São Julião, Rua da Betesga ou na Rua dos Fanqueiros. Antes de Fernando Pessoa, poetas e escritores, como Antero de Quental e Almeida Garrett falavam sobre os curiosos e insólitos nomes dados às ruas e logradouros de Lisboa. Como a Triste Feia, que não é rua nem praça, mas um charmoso recanto em Alcântara. As lendas falam de uma certa moradora, mulher feia e triste, que sentava-se à porta da casa nº 28 para chorar as mágoas.                                                                                

Mas nem todas as ruas tem uma estória para contar. No bairro  de Madredeus existe uma rua Azinhaga da Bruxa e não longe dali, um Beco da Bixa, cujos nomes desafiam nossa imaginação. Para provocar, qual seria a razão de um lugar na Alfama ser chamado Jardim das Pichas Murchas, que não é jardim nem tem nada que possa murchar?

Outro nome com estória - no bairro da Glória, a Travessa do Fala Só, foi batizada por antigos moradores porque havia um homem que falava sozinho...

***