Sem amor eu nada seria

Por Márcia Martins

O amor é um sentimento tão bonito, tão majestoso, tão enigmático. Em todas as suas formas, em todas as suas intensidades, em todas as suas nuances e em todas as suas manifestações. Seja o amor pela profissão, pelas escolhas realizadas, pelas incansáveis jornadas de trabalho, pelas escassas horas de descanso, pelos roubados momentos de lazer, pelos animais, pela família, pela solidão de cada um e pelo partilhamento de emoções, como já profetizou o genial Renato Russo, na música Monte Castelo, ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

Pois, nesta terça-feira, 12 de junho, o Facebook (a rede social que mais frequento), foi enfeitado pela magia do amor. Nos comentários afetuosos, nas declarações românticas, na postagem de poesias, músicas e fotos de casais jurando eterno amor ou simplesmente agradecendo pelo amor recebido até então. Tudo resultado da comemoração do Dia dos Namorados e Dia das Namoradas. Foi tanto carinho, tanta ternura, tanta querideza publicada que fui contagiada pelo clima e resolvi hoje escrever a coluna sobre o meu amor, o mais antigo, o mais atual e o revelado a todo instante.

No meu caso, há 23 anos (ou mais se contar o tempo de gestação da minha filha), experimento um sentimento profundo, derradeiro, inexplicável e intenso demais pela Gabriela que, seguramente, é uma das formas de amor mais lindas que já conheci. Fiz coisas bem impossíveis pela Gabriela, como ficar noites sem dormir acalentando seu sono durante as pequenas enfermidades da infância e permanecer acordada o resto do dia, como se não me fizesse falta aquelas horas de sono. Sem falar da participação de gincanas da creche, das festas juninas do colégio e da parceira em shows quando era uma menina.

Penso que toda a mãe desenvolve um amor incansável e divino pelas suas crias. É como se existisse uma parte do coração materno pulsando no coração dos filhos e filhas. É como se o mundo lá fora pudesse explodir a qualquer momento e fosse sempre necessário que os filhos e filhas gozassem da proteção materna. É como se toda a abnegação não tenha sido suficiente e a cada novo dia doses extras de dedicação tenham que ser aplicadas no cuidado de filhos e filhas. É como se a vida das mães ganhassem capítulos nunca antes escritos sem o protagonismo dos filhos e filhas.

Gabriela é assim no meu cotidiano. Um ser de luz. Desde a primeira vez que eu vi seu olhar e segurei sua mãozinha naquela noite quente de 6 de dezembro de 1994. Todas as fases da lua. Minguante quando termina algum relacionamento e crescente ao assumir novos desafios na sua vida. É o meu amanhecer, meu entardecer e mesmo meu anoitecer, ainda que por vezes, despidos da calmaria. Ela me desperta com o seu jeito de arrastar os chinelos pesados sobre o chão. Ela me entardece ao oferecer um cafezinho preto passado na hora. Ela me anoitece ao despencar seus cabelos lisos e sedosos no meu colo no sofá da sala quando quer provocar seu sono.

Com a única certeza que adquiri nestes meus muitos anos de vida, posso dizer que a minha filha é a mais perfeita significação do amor. Gabriela perfuma o ar que respiro, aguça meu sexto sentido, adoça os meus dias amargos, enobrece meus sentimentos mais mesquinhos, faz renascer minha busca por justiça social, reinaugura a cada dia a minha vontade de persistir, de empreender, de crer, de afagar, de acarinhar, de amar. Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem o amor da Gabriela eu nada seria.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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