Seremos resistência

Por Cris De Luca

Eu comecei meu envolvimento com política muito cedo. Desde criança era levada pelo meu pai aos comitês de candidatos, em convenção partidária, em comício. Vi primos e vizinhos sendo eleitos. Acompanhei campanhas de tio em cidades do interior de Santa Catarina. Comecei a votar em 1996. Sim, completei 16 anos e sai que nem louca para fazer o título porque queria participar de vez das decisões políticas da minha cidade, do meu estado, do meu País. Sim, sou dessas. Aprendi desde pequena que não devo me omitir porque muita gente lutou, apanhou e morreu para que eu tivesse o direito ao voto. E não escutei só isso dentro de casa, de parentes que foram exilados, aprendi isso na escola, dentro de um colégio católico no centro de Criciúma, onde eu fui ensinada também a ter senso e pensamento críticos, argumentar e a ter empatia.

Sim, sou uma pessoa cheia de privilégios. Mulher branca, cis, de família classe média, que estudou em colégio particular, que passou por duas universidades federais e por outras duas instituições de ensino particular em Porto Alegre. E, que mesmo assim, sente medo do que pode acontecer neste País caso o candidato mais conservador e retrógrado dos últimos tempos seja eleito em 28 de outubro. Sinto medo por mim, mas sinto, principalmente, pelas pessoas que amo que são gays, lésbicas, trans, negras, índias e que só querem viver suas vidas de forma livre sem ter que dar satisfação para ninguém e lutar por direitos iguais para todos.

Fazia tempo que não ficava tão angustiada e triste num período eleitoral. Me lembro de ter chorado quando perdi a primeira eleição por aqui, porque não sabia o que seria do meu emprego. Coisa de recém-formada. Na segunda derrota, chorei porque as pessoas não tinham conseguido enxergar as propostas de maneira clara e a polarização já mandava mais que o bom senso. Agora, pelo menos nos últimos três dias, eu choro de medo, às vezes de raiva, por pensar que eu posso perder a liberdade de escrever essas linhas em pouco tempo, por ver cada vez mais vídeos de agressões a negros e gays usando a política como desculpa, por assistir pessoas queridas e que eu considerava sensatas usando a questão da corrupção para votar no ser, por pensar que muito em breve estaremos correndo risco de vida ao andar nas ruas porque querem liberar o porte de arma para geral.

"Nossa, Cris, que exagero! O fulano não vai sair batendo nas pessoas e mandando matar." Não, ele pessoalmente não vai, mas ele abriu um precedente horroroso e que em pouco tempo já vimos noticiado por aí o que pode vir. Ou alguém aí não viu os vídeos circulando do povo indo votar armado? Ou um grupo gritando palavras de ordem no metrô? Ou a criatura que foi votar com camiseta com símbolos nazistas? Só não tem medo quem não olha para o lado e não vê o que está acontecendo ou que vive numa bolha tão fechada que não consegue ser tocado por mais nada. "Ah, Cris, mas do outro lado está o PT e toda a corrupção que vem junto." Como se já não tivesse prova suficiente que o cara do outro lado também é corrupto. Inclusive, com declaração do próprio falando sobre o assunto.

Nunca imaginei, nem no pensamento mais remoto, que um dia eu estaria defendendo um candidato do PT e nem votando nele. Acho que se o candidato não fosse o Haddad, seria bem mais difícil. Pelo menos convivi com ele um tempo quando ele era Ministro da Educação e posso assegurar que, pelo menos, sensato ele é. Sim, isso é uma declaração de voto! E farei o possível para que outras pessoas que estejam em dúvida, façam essa escolha também. Enquanto existir democracia, haverá esperança. E se fere a minha existência e das pessoas que eu amo, eu serei resistência. O #elenao continua no segundo turno! Que a Deusa nos proteja e nos dê discernimento. Mais amor e olhar para o outro, por favor! <3

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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