Serenissimas

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Veneza é como comer de uma só vez uma 

caixa de bombons recheados de licor."

Truman Capote.

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Dizia-se que o grande mestre do cinema italiano Michelangelo Antonioni se recusava filmar em Veneza, pois pensava ser impossível o cinema competir com a beleza da cidade. Mesmo assim, mais de 700 filmes foram rodados nos palazzi do Grand Canal. Alguns exibidos e premiados no charmoso Festival Internacional de Cinema, desde 1932 no Lido. Alguns títulos tornaram-se clássicos da telona e aparecem em quase todas as listas dos maiores de todos os tempos.

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O diretor Luchino Visconti foi um dos tantos que não seguiram Antonioni. Ele assina Senso, um belo filme, com Alida Vali e Farley Granger. Ganhou aplausos da crítica quando exibido no Festival de Veneza de 1954. Mas o cobiçado Leão de Ouro foi para Giuletta e Romeo, do também italiano Renato Castellani, inteiramente filmado em Verona, com Laurence Harvey e Susan Shentall.  

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O diretor David Lean soube capturar com refinamento e elegância os misteriosos encantos venezianos. Summertime (1955) conta a história de Jane Hudson, vivida por Katherine Hepburn. Ela é uma secretária de meia-idade que nunca conheceu o amor e viaja a Veneza para escapar de sua vida medíocre. Vai em busca uma chance de viver um grande - e último - romance. As decepções e amarguras de Jane Hudson fazem um triste contraste com a esmagadora beleza dos palazzi dourados pelo sol de outono. Um clássico.

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Outro cineasta que confessou seu fascínio por Veneza foi o inglês Nicolas Roeg, que havia atuado como diretor-assistente de David Lean em Lawrence da Arábia. Em 1973, ele dirigiu Don't Look Now, um filme ao mesmo tempo assustador e comovente. É a estória de um casal, Laura e John Baxter, que viaja a Veneza após a morte trágica de sua filha. A beleza da cidade é ofuscada por intrusões sobrenaturais, que sugerem ao casal que sua filha ainda pode estar viva. Ao final, sobra a impressão de que, mesmo na Veneza palaciana, o terror espreita em cada canto.

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Um clássico do cinema com sotaque veneziano é Casanova, de Federico Fellini. Rodado em 1976 nos estúdios da Cinecittà em Roma, tem apenas os 30 minutos iniciais filmados em Veneza, mas são suficientes para expor os desvarios de Casanova nas extravagâncias do Carnevale. O ator Donald Sutherland participa com entusiasmo da jornada de licenciosidade pelos salões de uma Europa barroca. E Veneza emerge como um finale perfeito desta visão feliniana da solidão humana.

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The Wings of the Dove foi adaptado de um romance de Henry James. Exibe a exuberância da Veneza do início do século XX, quando era o playground de aristocratas britânicos e ricaços norte-americanos. Gôndolas, palácios e pontes são retratados como pano de fundo para a história de Millie Theale, uma herdeira americana, doente terminal que faz sua última viagem. Helena Bonham Carter é a aristocrata britânica arruinada que planeja herdar a fortuna de Millie. Amores frustrados, enganos e morte no cenário de uma Veneza de beleza decadente e indulgente.

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Não é de hoje que, cativados pelos encantos de Veneza, escritores, poetas e personalidades míticas cunharam frases e aforismos sobre a Serenissima República de Venezia:

De Peggy Guggenheim, milionária e mecenas:

"Se me pedirem para descrever beleza,

só consigo pensar no por-do-sol em Veneza."

De Friedrich Nietzsche:

"Se eu tivesse que encontrar uma palavra que substituísse "música", eu só conseguiria pensar em Veneza."

Do escritor Henry James: 

"Embora existam algumas coisas desagradáveis ??em Veneza,

não há nada tão desagradável quanto os turistas." 

E do poeta Jean Cocteau: 

"Veneza, metade mulher, metade peixe, é uma

sereia que fugiu de um pântano do Adriático."

Do filme Amore a prima vista:

"Veneza: a cidade mágica onde as pessoas

vêm procurar as coisas que não acham em lugar algum."

A poesia de Hermann Hesse:

"A gôndola negra, magra e o modo em que se move, leve,

sem qualquer ruído. Há algo estranho, uma beleza de sonho,

parte integrante da cidade da ociosidade, do amor e da música."

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O imaginário de Italo Calvino em Cidades Invisíveis:

 "- Ainda existem segredos dos quais você nunca fala",

disse o Grande Khan.

Marco Polo abaixou a cabeça:

"- Veneza", disse Marco sorrindo.

O Imperador não levantou a cabeça:

"- Eu nunca ouvi você mencionar esse nome."

Marco Polo:

"- Todas as vezes que descrevi uma cidade, estava falando

sobre Veneza."

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Thomas Mann em Morte em Veneza:

"Esta é Veneza, a beleza lisonjeira e suspeita desta cidade,

metade conto de fadas e metade armadilha turística,     

em cujo ar insalubre as artes voluptuosamente floresceram,

onde os compositores foram inspirados a embalar tons de erotismo sonoro."

De Henri III:

"- Se não fosse Rei de França,

eu escolheria ser cidadão de Veneza."

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Frases sobre Veneza:

Que Veneza é a cidade favorita de muitos dos maiores artistas e pensadores da história, isso não é novidade. Porque então não ler o que essas grandes personalidades tem a nos dizer?

"Presume-se sempre que Veneza é a cidade ideal para uma lua de mel, mas é um erro grave. Viver em Veneza, ou simplesmente visitá-la, significa se apaixonar por ela, e no coração não sobra espaço mais nada."

Peggy Guggenheim

"Se eu tivesse que encontrar uma palavra que substituísse "música", eu só conseguiria pensar em Veneza." 
- Friedrich Nietzsche 

"Veneza, metade mulher, metade peixe, é uma sereia que se livrou de um pântano do Adriático."
- Jean Cocteau 

"Veneza: a cidade mágica onde as pessoas vêm procurar as coisas que não acham em lugar algum."
- do filme Only You - Amore a prima vista

"A gôndola negra, magra, e o modo em que se move, leve, sem qualquer ruído. Há algo estranho, uma beleza de sonho, parte integrante da cidade da ociosidade, do amor e da música."
- Hermann Hesse 

foto: Simon Plestenjak

"Esta foi Veneza, a bela lisonjeira e ambígua, a cidade meio fada e metade armadilha, na qual atmosfera corrupta a arte cresceu luxuriante, e sugeriu aos músicos melodias voluptuosas para embalá-los no sono." 
- Thomas Mann.

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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