Tite, Mourão e Bolsonaro

Por Flávio Dutra

Algumas das principais figuras publicas do País estão penando não pelo que  fazem ou deixam de fazer, mas pelo  que falam. Não me refiro apenas à turma do Bolsonaro que, a cada dia, nos brinda com alguma pérola em termos de declaração, mas incluo no time dos mal falantes e mal falados, o técnico da seleção.

Com seu estilo professoral e muita inspiração na neurolinguística, Tite sempre tem uma novidade  nas coletivas, como na última convocação, ao elogiar o "torque" de determinado atacante. Conheço bem o pessoal da mídia esportiva e já vou avisando que, de inicio, ele reverbera positivamente as novidades linguísticas, mas em seguida perde o entusiasmo com essas explicações que fogem aos jargões do futebolês. E o técnico passa a ser contestado, mesmo que seu trabalho tenha sido superior, até  agora, em relação aos seus antecessores recentes. Claro que tudo muda em caso  de vitória na Copa  América. Aí o Tite vai se puxar nas coletivas.

No futebol, como na política, somos movidos por resultados. De preferência, positivos a nosso favor. Mas resultados ruins e declarações no mesmo nível não há o que salve.

De outra parte, surge uma surpresa no cenário de entrevistados importantes.

Outro dia assisti à participação do vice-presidente Hamilton Mourão, na Globo News, e fiquei positivamente impactado com a forma e os conteúdos do general, que tem provocado encantos até mesmo em hostes esquerdistas. Mourão fala claro, com uma lógica aprendida  na caserna e, assim, as respostas tem começo, meio e fim, e atendem aos questionamentos.  É bem verdade que a bancada de entrevistadores não era das mais  hostis, mas o bom general, com alguns momentos de humor castrense, não deixou nada sem explicação, sempre sob o seu ponto de vista, às vezes com direito a réplica e tréplica. Passou a ser o novo queridinho da mídia, uma vez que Bolsonaro tem conhecidas dificuldades para enfrentar entrevistadores em geral.

Mais tarde, soube que o que contribuiu para a mudança de postura do vice, do general gênero linha-dura, sem papas na língua, para o papel de bem articulado e contido porta voz governamental, foi um processo que está ao alcance de qualquer liderança: um media training. Sim, um treinamento para aperfeiçoar a capacidade de se relacionar com jornalistas.

Mourão se deu conta de que comunicação, sobretudo no âmbito do governo, requer profissionalismo e, vestindo as sandálias da humildade, nas últimas três semanas de 2018 frequentou o serviço de Comunicação do Exército. Lá, submeteu-se às rigorosas sabatinas em sessões com duração de 30 minutos, nas quais nenhum tema era tabu.

Não se tem informação se Bolsonaro participou ou mesmo cogitou um processo semelhante. Precisaria, e de forma urgente, pois do jeito como se  comunica em seguida estará empatando e talvez superando a ex-presidenta Dilma em termos de bobagens.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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