Toco, Pauta 500 e Passaralho

Por Flávio Dutra

Na coluna da semana passada, confessei minha ignorância quanto à relação da palavra Toco com a prática, que já foi bastante disseminada no meio jornalístico, de presentear repórteres e editores com mimos ou mesmo algum por fora em dinheiro. Continuo sem ter resposta a esse grave enigma que, aliás, é exclusivo da imprensa gaudéria. A denominação, não a prática, porque lá fora atende por outros nomes, como jabá ou jabaculê.

A outra indagação na mesma coluna foi sobre a relação do termo Pauta 500 com aquela pauta obrigatória que é de interesse da empresa e vai merecer tratamento especial na edição. O professor Flávio Porcello, meu bom amigo e parceiro de outras jornadas, lançou luzes sobre a dúvida: o 500 era o ramal - de um andar superior - em importante empresa jornalística da capital de todos os gaúchos, de onde partiam os pedidos de Pauta 500. Ele mesmo foi premiado com ligações do referido ramal.

A verdade é que o termo se espalhou tanto assim que sou testemunha de observar o número 500, de bom tamanho e escrito com caneta verde, no papel das pautas de repórteres da empresa concorrente. Os profissionais torciam o nariz para a imposição, mas não escapavam da versão jornalística do "manda quem pode, obedece quem tem juízo".

Sobre o Toco, lembro o que ocorria numa emissora de rádio, das tantas em que trabalhei, em que o programa do meio da tarde ganhou da equipe o apelido de Hora da Serraria tal a quantidade de recados, elogios, congratulações no ar, que resultariam em tocos mais tarde para o apresentador.

Como estou fora do mercado não tenho elementos para avaliar o atual estágio nos meios de comunicação do Toco e da Pauta 500. Nem vou me investir de corregedor da mídia. Já tem gente de montão, à esquerda e à direita, fazendo isso. O que me preocupa mesmo são os efeitos daquele outro termo dos bastidores do jornalismo, o passaralho, que tem sobrevoado redações em todo o País, decepando profissionais qualificados, encolhendo o mercado de trabalho e fragilizando o papel da mídia como expressão da sociedade. Não há Pauta 500 que salve dessa verdadeira epidemia. Xô, passaralho.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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