Um marujo chamado Spaghetti

"O medo dura pouco.

O arrependimento dura toda a vida."

(Niccolò Polo)

Ele foi o mais importante mercador da Idade Média, um precursor do caixeiro-viajante do século XX. O veneziano Marco Polo atravessou os imensos desertos da Ásia e Mongólia até a inacessível China. Uma jornada épica, sem exemplos passados ou futuros, que durou 24 anos, entre 1271 e 1295. Suas aventuras (e desventuras) foram registradas no 'Livro das Maravilhas do Mundo', que revelou aos incrédulos europeus as grandezas que existiam do outro lado do mundo.

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Em sua peregrinação, Marco Polo tinha a companhia de dois experientes mercadores, o pai, Niccolò e o tio, Maffeo. Ambos já haviam trilhado os caminhos do Oriente e dividiram seus segredos com o jovem aventureiro. Em seu regresso, encontram uma Veneza tumultuada e em guerra contra a poderosa Genova. Marco Polo é preso e decide usar o tempo para ditar memórias ao escritor Rustichello da Pisa, seu colega de cela. Libertado em 1299, retoma sua carreira de mercador, ficando rico e famoso. Suas narrativas obrigaram os cartógrafos redesenharem seus mapas e inspiraram exploradores como o perugiano Giovanni da Pian del Carpine, o flamengo Guilherme de Rubruck e o genovês Cristóvão Colombo. Ele havia aberto as portas da Europa para as Grandes Invenções e para a riqueza cultural de um mundo até então desconhecido no Ocidente.

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As maravilhas de viagem descritas por Marco Polo soaram tão fantásticas à sua época, que foram consideradas como exageros de imaginação. Muitos duvidavam até da existência da China, que era então um território em branco nos mapas da época. Às vésperas de sua morte, Marco Polo produz um novo documento, registrado por tabelião, com depoimentos de sua mulher Donata, das filhas e do padre da família. Este documento, que está na Biblioteca Nacional Marciana, em Veneza, passou por testes de autenticidade que comprovaram ser Marco Polo não um contador de estórias, mas um grande descobridor. O documento fornece ricos detalhes de suas viagens e descobertas, abrindo a rota para a China, através do Irã, Afeganistão, Pamir e o Turquestão. E um caminho de volta, pela Indochina, Indonésia, Ceilão e a costa da Índia.                                  

Ao chegar a Veneza, sua bagagem não continha apenas sedas preciosas, perfumes, pedras raras e especiarias. Revelava maravilhas desconhecidas como a pólvora, os fogos de artifício, o compasso marítimo, o papel moeda e o gás para iluminação. E a primeira referência que chegou ao Ocidente das riquezas do Cáspio, descrevendo "um líquido semelhante   ao azeite, porém que não serve para comer, mas para queimar e ungir homens e animais". Ninguém naquele momento sabia que Marco Polo havia descoberto o petróleo. Mas curiosamente, o que lhe rendeu fortuna não foi esta descoberta, mas as especiarias e produtos exóticos, como tâmaras de Baudac (hoje Bagdad), pistache, gergelim, painço e o ruibarbo. Os venezianos se encantaram com o sorvete e o iogurte, que ele descreveu como "um leite desidratado e sólido como pasta seca". E, segundo a lenda, foi Marco Polo que apresentou o macarrão aos italianos.

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Na verdade, a História consagrou a lenda, mas pelo que se sabe hoje, o crédito cabe a um marinheiro da tripulação do barco de Marco Polo. Que foi enviado até uma ilha chinesa para encher um barril com água potável. Em terra, viu uma jovem cozinhando "cordas" e pediu alguns fios crus para levar a bordo. Entregou o material a Marco Polo, que os cozinhou e serviu à tripulação. Todos se encantaram com o prato e apelidaram as "cordas" com o nome do marinheiro, que se chamava Spaghetti. Quando a lenda é mais verossímil que a História, fica-se com a lenda.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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