Um ministério notável

Por Flávio Dutra

01/10/2018 18:36 / Atualizado em 01/10/2018 18:34

Enquanto a maioria dos candidatos a cargos majoritários promete diminuir o número de secretarias e ministérios, eu empreenderia uma campanha na contramão desse encolhimento demagógico e oportunista. E criaria um conjunto de novas estruturas estatais, pois identifico importantes áreas desassistidas ou sem controle pelo poder público. Assumiria, porém, o compromisso de buscar para comandá-las os quadros mais capacitados, profissionais de reconhecido saber, um time de notáveis, como o Grêmio.

Daria prioridade ao Ministério da Gastronomia, da Enologia e do Lúpulo, para qualificar ainda mais a boa mesa tupiniquim, com a garantia de que as iguarias  seriam corretamente harmonizadas com a carta de vinhos. Haveria um departamento exclusivo para cervejas, sendo terminantemente proibidas licenças de fabricação para as de trigo, de banana, de chocolate e, especialmente, a de erva-mate. Convidaria para assumir esse ministério o Rodrigo Hilbert, que me parece ter um perfil adequado ao cargo, além do que a primeira dama da pasta poderia ser a mestra de cerimônia dos eventos ministeriais. Um luxo. Para o departamento de Veganos cogitaria a irmã da Preta Gil, a Bela Gil e suas receitas saudáveis.

Já o Ministério do VAR seria criado para dar uma resposta à questão transcendental da arbitragem esportiva, que tanto aflige os brasileiros e tantas polêmicas provoca, com alto potencial de geração de conflitos e desordens. Portanto, trata-se de assunto sério, de coesão social e segurança nacional, que não pode ficar sob a responsabilidade daqueles incompetentes da CBF. A ação desse ministério começaria com o futebol e seria estendida a outros esportes e jogos, inclusive bocha, bolão, truco e cancha reta. Para dirigir a pasta será convidado Arnaldo Cesar Coelho, que já anunciou o desejo de se aposentar da Globo. Galvão Bueno nem para a posse será convidado.

O Ministério das Redes Sociais virá para regular a zorra em que se transformaram essas manifestações, mas pode ser substituído por uma empresa pública, a Brasredes, que vai atuar com severidade para coibir abusos, desaforos, assédios, fake news, pedidos de correntes, fotos de pets e de comilanças. Serão vedadas expressões como 'bora lá', 'aí é que me refiro', os KKKKs, Hahahas, e falsidades tipo 'linda!', 'amo muito!' e recados que ninguém entende. Flautas esportivas serão permitidas e até incentivadas, afinal, é preciso dar alegria ao povo. Em princípio, pensei para liderar esse importante ministério uma parente que entende tudo de redes sociais e se move por rígidos padrões éticos, mas não faltaria quem me acusasse de nepotismo, por isso, a vaga ainda está em aberto.

O Ministério da Imprevidência vai assumir todos os problemas que emperram o Ministério da Previdência, inclusive o pagamento de pensões indevidas e aposentadorias acima do teto, e, assim, permitir que este cumpra seu papel de garantir uma aposentadoria digna aos brasileiros. Difícil vai ser encontrar um imprevidente para assumir o novo ministério.

Por fim, será criado o Ministério das Utopias, entregue a um dos atuais candidatos, que prometem o paraíso na terra sem explicar como chegar lá. O ministro terá toda a liberdade para fantasiar projetos e projetar fantasias, nada que se viabilize, mas mantendo-se entretido, sem atrapalhar as outras ações governamentais. Reconheço que o Lula já tentou algo semelhante com o filósofo Mangabeira Unger ? que se apresentava também como teórico social - e a então Secretaria de Assuntos Estratégicos. Era erudição demais para o ex-presidente e a tal secretaria foi extinta.

O projeto todo de ampliação do gabinete ministerial é ambicioso, só falta um partido corajoso abraçá-lo, de preferência, um radical de centro que banque uma candidatura inovadora.

Em tempo, antes que me interpretem mal: é brincadeira, gente, se bem que perto de algumas propostas que ouvi na atual campanha, as besteiras aqui sugeridas nem são tão risíveis assim.

Pensem nisso quando forem votar no próximo domingo.