Vale a pena participar da política?

Por Elis Radmann

Grande parte da população gaúcha não quer saber de partido político e, muito menos, participar de reuniões ou debates políticos. Os estudos realizados pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião indicam que a falta de interesse é motivada pela decepção, que pode ser ativada por diferentes gatilhos:

a) Pela cultura política vigente = que é resultado do distanciamento histórico da sociedade em relação à política. E o distanciamento mantém a população desinformada e suscetível a avaliar a política pela rede de boatos ou por suas observações;

b) Pelas práticas permissivas dos agentes políticos = essas práticas são observadas em negociatas, manutenção de privilégios ou vantagens pessoais para quem faz parte do mesmo grupo político;

c) Pela malversação de recursos públicos = que mostra que muitos gestores públicos não têm planejamento de suas ações ou que são displicentes com os recursos. Na prática, não cuidam do dinheiro público ou orientam ou cobram a suas equipes como deveriam;

d) Pela demagogia dos eleitos = ninguém gosta de ser enganado. Quando um candidato promete e não cumpre ele denigre a sua imagem e quando vários candidatos prometem e não cumprem, denigrem a imagem da política;

e) Pela corrupção de alguém que deveria dar o exemplo = o maior de todos os males e que, de certa forma, é a cereja do bolo. O eleitor olha para todo o cenário e pensa que a política é a arte da enganação, uma forma oficial de roubar a população.

Chegamos nesse cenário e não se pode culpar a sociedade por acreditar que a política é algo ruim e que políticos não prestam.

Temos a missão de salvar a política. Para salvar a política temos que ajudar a resgatar e recontextualizar a política. E para fazer isso temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política para que os políticos revejam o seu comportamento e as suas práticas.

Desde o processo de democratização do País, não houve o efetivo estímulo à participação política da sociedade. Na prática, é muito mais fácil para os mandatários não terem que prestar contas a uma sociedade organizada, crítica e que tenha informações sobre os bastidores da política.

Essa realidade precisa ser alterada para que a política seja vista de forma positiva e que cumpra o seu papel enquanto fomentadora do diálogo, como ferramenta de negociação de ideais, de propostas e que guie projetos. A política é o baluarte da democracia e deve ser utilizada pelos líderes na busca pelo bem-comum (interesse público).

Vale a pena participar da política, mas para haver participação é necessário ampliar o interesse pela política e ter instituições representativas, locais para participação, espaços de diálogo e de debate.

A participação política pode começar pelo envolvimento com a realidade em que vivemos: com a associação do nosso bairro, a associação de pais e mestres da escola de nossos filhos, o sindicato que cuida de nossa profissão, a associação de classe ou ONG (que defende um tema que é importante para nós).

Também podemos pensar no ativismo digital, utilizando as redes sociais e os sites de informações para acompanhar a política e interagir com quem destinamos o nosso voto.

Se cada um de nós se interessar e se envolver mais com a política vamos descobrir que vale a pena. Com isso estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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