Vida de gado

      Numa recente matéria da New Scientist, John Casti faz uma intrigante pergunta: "Quando foi a última vez que você boicotou uma tendência, realmente nadando …

      Numa recente matéria da New Scientist, John Casti faz uma intrigante pergunta: "Quando foi a última vez que você boicotou uma tendência, realmente nadando contra a corrente?" As probabilidades são de que nunca o tenha feito - pelo menos não durante muito tempo. Mas a culpa não é sua. Talvez você não tenha tanto livre arbítrio quanto imagina."(Matéria completa clicando aqui).
      Ele explica então que temos um livre arbítrio relativo. Que, apesar de nossa liberdade e imaginação, não deixamos de estar presos a algumas tendências. Se as calças têm bocas de sino, lá vamos nós. Sapatos de bico quadrado? Nós de novo. O "canal" é comprarmos rúcula? Não se encontra, a partir de um certo horário, rúcula à venda na feira ecológica da Redenção, realizada aos sábados pela manhã. Enfim, somos grandes imitões. Maria-vai-com-as-outras.
      Pessoalmente, detesto isto. Não gosto de me ver como um seguidor de tudo o que os outros fazem e ditam. Gostaria de ser completamente dono do meu nariz. Só que não somos (seres humanos) assim.
      E John Casti explica que a utilização de fórmulas matemáticas já é antiga, como se sabe. A diferença é agora também são utilizadas para explicar não só os padrões de construção dos flocos de neve, a forma de uma concha, mas para descreverem padrões de comportamento humano. Assim, como diria Zé Ramalho, somos todos gado. Vida de gado. Andamos em bandos, fazendo coisas iguais. Povo marcado, povo feliz.
      E o que isto tem a ver com marketing? Tudo. Somente porque nos comportamos de forma semelhante, em padrões repetitivos, as empresas conseguiram desenvolver produtos, serviços e estratégias que contemplassem grande parte dos consumidores. Imagine uma pequena cidade (15 mil habitantes) em que todos tivessem comportamentos absolutamente diversos entre si? Seria o caos corporativo.
      As empresas hoje já conseguiram muita flexibilidade para segmentar suas bases de dados. Já não há só consumidor masculino ou feminino. Há o consumidor masculino de 45 anos, casado, com dois filhos. E há o consumidor masculino de 22 anos, que mora sozinho em um JK. Mas seria uma tragédia imaginarmos que todos os mais de 6 bilhões de habitantes da Terra tivessem um comportamento muito diferente dos outros 5.999.999.999. A psicologia e a sociologia explicam o fato de os seres humanos se agruparem e viverem de forma semelhante.
      Claro que há as exceções, normalmente constituídas por artistas e pensadores, que afrontam esta tendência e vivem de forma diferente dos demais. Mas, para a alegria e viabilidade das empresas, constituem uma minoria.
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