Como o novo coronavírus mudou a forma de fazer telejornalismo no RS?

Coletiva.net ouviu as seis principais emissoras de Porto Alegre para entender como cada uma se adaptou aos novos tempos

Coletiva.net consultou as seis principais emissoras de Porto Alegre - Reprodução

No final de fevereiro, mais especificamente no dia 26, confirmou-se o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. De lá para cá, a população precisou se adaptar a uma nova realidade, em que o distanciamento é essencial para ajudar a controlar a pandemia. Assim, muitos setores precisaram se reinventar rapidamente. E um deles foi o do telejornalismo, que compõe o quadro de serviços considerados essenciais para a nação - inclusive, registrando um aumento considerável de audiência e relevância neste difícil período da humanidade.

No entanto, ao contrário do rádio e do impresso, em que os seus profissionais podem se utilizar de ferramentas como telefone e internet para conversar com fontes, evitando, em alguns casos, sair às ruas, a televisão trabalha exclusivamente com imagens, ou seja, o repórter tem que aparecer, bem como o seu entrevistado. E é para entender o jogo de cintura que as empresas de comunicação estão fazendo para conseguir entregar matérias de qualidade em um período tão atípico, que Coletiva.net entrou em contato com seis emissoras de Porto Alegre e perguntou: afinal, como o novo coronavírus mudou a forma de fazer telejornalismo?

SBT RS

A primeira resposta veio de Danilo Teixeira, gerente de Jornalismo do SBT RS. Ao portal, ele ressaltou que o período em que estamos vivendo é histórico, no qual está sendo apresentada uma nova forma de se fazer televisão. "São adaptações diárias nas equipes, nos equipamentos e até nos formatos e de exibição. Hoje, por exemplo, uma equipe de reportagem tem que sair com o kit eletrônico e com outro de higienização", explicou

De acordo com ele, para combater a pandemia, o time presencial na redação teve que ser reduzido, com os espaços entre as estações de trabalho sendo ampliados e o uso de máscara se tornou indispensável. "Outra parte que estamos trabalhando é a mente. O home office está sendo importante para que os colaboradores se adaptem a uma outra forma de trabalho e também descansem um pouco a cabeça em relação à pressão psicológica que vivemos dia a dia, com o medo da doença", contou. Para ele, este é um momento único, em que é necessário tirar lições e também evoluir no formato da TV, de acordo com as adaptações. "É uma revolução em meio a uma pandemia", concluiu.

RBS TV

Na sequência, Coletiva.net ouviu Cezar Freitas, diretor de Jornalismo da RBS TV. Para ele, a preocupação da emissora é manter a saúde dos jornalistas e entrevistados, garantir a qualidade da informação e a manutenção dos serviços prestados ao público. "Procuramos preservar nossos profissionais reduzindo o que for possível o trabalho na rua. Com isso, também preservamos nossos entrevistados", enfatizou. Além disso, ele apontou que muitas das reportagens estão sendo feitas de casa, com entrevistas pela internet. Quando é necessário o encontro do repórter com a fonte, a equipe dispõe de um microfone para o entrevistado ou usa um equipamento com uma haste maior. "Os dois recursos nos garantem a distância recomendada pelas autoridades médicas", destacou.

"Além da forma, percebida no ar, mudamos também processos internos. Só se desloca para a emissora o pessoal essencial. Além de repórteres, temos produtores, editores de texto, de imagem e de arte trabalhando em casa, conectados por sistemas de comunicação que os colocam em contato virtual, como se estivessem na redação", contou Freitas ao portal. Ele ainda revelou que a equipe de tecnologia adaptou os sistemas para que todos possam operar descentralizados, com foco na saúde da equipe e na qualidade do produto que é entregue. "Mais do que nunca, temos que cumprir nosso compromisso de apoiar nosso público com a melhor informação. Os resultados de audiência só aumentam nossa responsabilidade", concluiu.

RDC TV

Coletiva.net também ouviu Márcio Irion, diretor-geral da RDC TV, que explicou que a TV vem se transformando de diversas formas, quer seja no formato do sinal ou no perfil de conteúdo capaz de engajar os telespectadores. Sendo assim, neste período, em que tudo mudou, "por óbvio, teremos que mudar a forma de fazer comunicação, pois qualquer um com uma câmera e um computador pode ser um jornalista".

Outro ponto trazido pelo executivo foi que o consumo dos conteúdos daqui para frente será ditado pelo perfil de plataforma utilizada pelo telespectador -  o qual Irion afirma que não existe mais, uma vez que ele pode participar dos programas ao vivo. "A comunicação da Covid-19 será totalmente disruptiva e descentralizada", finalizou.

Record TV RS

Ao portal, Luiz Piratininga, gerente de Jornalismo da Record TV RS, disse que a emissora vem seguindo, rigorosamente, todas as orientações das autoridades da área da saúde. Sobre o fazer telejornalismo, diz: "Nos reinventamos mais uma vez". De acordo com ele, foram feitas adaptações na redação e nas ruas, com equipes de reportagem utilizando dois microfones - um para o repórter e outro para o entrevistado -, auxiliares higienizam os equipamentos a cada entrevista e alguns jornalistas têm ficado mais na redação, fazendo passagens internas.

"Todos os funcionários que estão saindo às ruas foram devidamente orientados a não se colocarem em nenhuma situação de risco", explicou ao Coletiva.net. Já o núcleo de produção foi orientado a evitar matérias com entrevistas em locais fechados e pautas desnecessárias. "A entrevista via internet tem sido uma grande aliada nesse momento de distanciamento social. Temos o dever de relatar todos os fatos que envolvem o Rio Grande do Sul neste momento tão delicado em que vive o mundo, mas temos a obrigação de garantir o bem-estar de todos os funcionários", completou. Enfatizando que o Jornalismo é integrante dos serviços essenciais estabelecidos pelo Ministério da Saúde, o Piratininga finalizou: "Vamos seguir na luta diária de informar toda população gaúcha, mas sem deixar de nos cuidarmos em todos os sentidos".

Rede Pampa

A Rede Pampa, através de sua diretora de Conteúdo, Marjana Vargas, afirmou ao Coletiva.net que as adaptações necessárias para oferecer maior segurança na rotina dos profissionais da comunicação possibilitaram nivelamento entre as emissoras. "Entrevistas gravadas pelos próprios entrevistados e enviadas às redações por meio das redes sociais é algo possível tanto para a empresa que possui estrutura para comportar 20 equipes de externa, como para quem tem apenas duas. Neste momento, terá maior audiência não a empresa com maior estrutura, mas a mais ágil, com mais 'fontes', com profissionais mais bem preparados", ressaltou.

Marjana destacou o "espírito de equipe" dos colaboradores da Rede Pampa que, "mesmo cientes de se tratar de uma atividade essencial, não medem esforços no dia a dia para levar ao público o melhor produto, mesmo com as baixas eventuais de colegas que, por precaução e solicitação das autoridades médicas, são afastados preventivamente, ainda que sem confirmação do diagnóstico de Covid-19". Ao portal, ela compartilhou um acontecimento da empresa: "Logo nos primeiros dias, ainda antes da quarentena, quando informamos aos colaboradores mais 'experientes' que, devido à idade, por segurança deles mesmos, precisariam se afastar das atividades presenciais, descobrimos alguns tentando comparecer 'escondidos', mas eles logo foram 'descobertos' pelos colegas que, entre brincadeiras, os 'expulsaram', desejando um 'até breve', já cheio de saudades".

Band RS

A gerente de Jornalismo da Band RS, Ciça Kramer, também comentou sobre as mudanças na emissora. "Como em todas as atividades, é um novo tempo. De muito aprendizado e, principalmente, de mudanças constantes. Desde o início da quarentena no país, o Grupo Bandeirantes adotou medidas de prevenção com parte da equipe trabalhando de casa. Só vem ao prédio quem realmente precisa estar aqui", explicou ao Coletiva.net. Ela frisou que o telejornal Band Cidade passou a fazer matérias com a repórter na redação. "E são pautas variadas, com muitas entrevistas. E aqui entra também um detalhe importante: as fontes se reinventaram, quem não utilizava programas para chamadas de vídeo, começou a usar", revelou. Segundo Ciça, isso possibilita que a emissora conte histórias, preste serviço e levante assuntos variados. 

"Claro, televisão é imagem e contamos com apoio deles também, muitas vezes, para termos acesso ao detalhe que faz a diferença no final. E, nessas horas, percebemos também a riqueza de material que chega até a redação e como as assessorias de imprensa estão qualificadas para prestar esse tipo de serviço, auxiliando a reportagem", avaliou. De acordo com ela, as entradas ao vivo também passaram por essa mudança, com infinitas possibilidades: "Descobrimos softwares que, mesmo com o término das restrições, seguirão dando suporte". Para finalizar, afirmou que a emissora acredita que 'esse novo jeito de fazer televisão' é o futuro no presente, porque o que interessa para o telespectador é conteúdo, seja ele contado com a ajuda da tecnologia ou não.

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