Marcelo Rech declara que o jornalismo deve investir mais na vida real

Presidente da ANJ também afirma que a investigação e a verificação de fatos devem ser priorizadas

Marcelo Rech - Reprodução

Em entrevista ao Portal Imprensa, o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e vice-presidente editorial do Grupo RBS, Marcelo Rech, destacou que o jornalismo independente nunca foi tão necessário, em especial como guardião da democracia, para um mundo digital marcado pela desinformação e pela tentativa de desqualificar a atividade jornalística. Assim, Rech afirmou que a imprensa e seus profissionais devem estar atentos ao que é dito nas redes sociais, mas também precisam, cada vez mais, retratar a vida real das pessoas, investir no jornalismo investigativo e aprimorar de forma constante a verificação de fatos.

Ao comentar as tendências para o jornalismo em 2019, Rech ressaltou que há uma percepção generalizada sobre a necessidade de buscar cada vez mais pautas da vida real, saindo mais da redação, deixando o telefone de lado e procurando a realidade na periferia e nas cidades mais distantes, fontes que não são habituais e previsíveis. "A vida real não está nas mídias sociais, essas servem apenas como um dos fatores de indicação. O Brasil real está nas ruas, à espera de ser apurado, visto, ouvido e interpretado em toda sua complexidade e riqueza", destacou o jornalista.

Rech também lembrou que o mundo está em transformação acelerada e o jornalismo tem de acompanhar essas mudanças, reciclando constantemente as abordagens para refletir as expectativas da sociedade. Essa tarefa, disse o presidente da ANJ, passa por outras frentes não menos importantes para o jornalismo moderno. Uma delas é o fact-checking que, de acordo com ele, é obrigação da imprensa, assim como trazer a realidade à tona.

Outro caminho para levar a verdade dos fatos para as sociedades, segundo Rech, são as reportagens investigativas, que têm papel decisivo no combate ao crescente movimento de cerceamento ao jornalismo. "Nunca antes foi tão necessário, no Brasil e em qualquer outro país do mundo, se fazer jornalismo independente, vigiando e acompanhando o trabalho dos governos."

Segundo o jornalista, nunca, também, foram tão sofisticados os modelos de tentativa de controle e intimidação, uso de setores de opinião pública ou legislação, para tentar dificultar ou impedir o trabalho da imprensa. Rech citou a recente mudança, por meio de decreto presidencial, da Lei de Acesso à Informação (LAI) no Brasil. A alteração, conforme ele, é um retrocesso. "Todos os países têm direito a informações confidenciais de defesa nacional, diplomacia... não é isso que se está contestando, mas ampliar para que cargos de confiança possam definir o grau de confidencialidade não ajuda a transparência, vai na direção contrária", criticou. "Mas acho que isso se torna um estímulo para continuarmos fazendo jornalismo investigativo no Brasil", completou Rech.

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