Nilson Vargas diz que foi difícil estar na cidade natal

Editor-chefe de Zero Hora fala das dificuldades em dividir o jornalista do ser humano durante a cobertura da tragédia

30/01/2013 10:04
Natural de Santa Maria, o editor-chefe de Zero Hora, Nilson Vargas, estava na cidade quando ocorreu o incêndio na boate Kiss. Conforme ele relatou ao Coletiva.net, ao chegar no local, por volta das 5h, o cenário era ?um misto de pavor e tristeza?. ?Foi muito duro estar lá. Tinha muita gente nas calçadas e corpos ainda dentro da boate?, detalhou, completando que, conforme as informações chegavam, como a de que um caminhão transportaria as vítimas para o ginásio municipal, maior era a dimensão do que estava acontecendo naquele momento. Como cidadão santa-mariense, ele explicou que cada palco desta tragédia era uma referência da vida dele e, por conta disso, a cobertura foi ainda mais difícil. Surpreendido com a solidariedade que se instalou em Santa Maria, Nilson disse que, para ele, é como se sua cidade natal tivesse sofrido uma fratura e, agora, estivesse em observação, para ver como conseguirá retomar sua vida. ?Sinto como se estivesse presente em todos os capítulos dessa novela?, comparou, em referência ao horário em que chegou no local e o fato de ter retornado a Porto Alegre no final da tarde desta terça-feira, 29. O editor-chefe também contou que ficou, por muitas vezes, dividido entre o sentimento de dor e tristeza e a posição de liderança que precisava assumir naquele momento. ?Tive que adotar uma postura mais estratégica para a cobertura, mas a linha entre o jornalista e o ser humano é muito pequena e, muitas vezes, esse limite desapareceu para mim?, disse. Nilson relatou também que, em meio a suas obrigações de editor-chefe de Zero Hora, tendo que articular quem ia para onde, quais seriam as fontes, onde os repórteres deveriam estar, em alguns momentos se deparava sofrendo junto com o que via. ?Tive que retomar minha posição várias vezes, pois, ao mesmo tempo que via a movimentação sofrida até mesmo de médicos, segundos depois me dava conta de que precisava voltar para a liderança necessária?, afirmou. ?Até agora?, completou, ?preciso de momentos para pegar fôlego e seguir o meu trabalho. A dor está capilarizada em Santa Maria?.