É isso aí, Zé!

Quando o José Dirceu, do alto do cargo de ministro da Casa Civil, dos Transgênicos, da Justiça sugeriu a Fernando Henrique Cardoso que fosse …

04/11/2003 00:00
Quando o José Dirceu, do alto do cargo de ministro da Casa Civil, dos Transgênicos, da Justiça sugeriu a Fernando Henrique Cardoso que fosse cuidar dos netos e da biblioteca, o que segundo ele é o papel de um ex, os companheiros de alto escalão, em vez de lhe pedir que parasse com a grossura e a impropriedade, devem ter aplaudido aos gritos de "é isso aí, Zé". Só isso explica o fato de poucos dias depois Luiz Inácio Lula da Silva, do alto do cargo de presidente da República, ter chamado os antecessores de covardes. Em ambos os casos a grossura certamente não vale para os ex Sarney e Itamar, risíveis amores do governo. Sarney comanda o Congresso e é homem de confiança da cúpula petista, enquanto Itamar coloca toda sua energia e esperteza a serviço de nossa embaixada em Roma. Ninguém usou este tom na campanha. Duda Mendonça, que jura que não é ministro, está perdendo o controle da situação. Elegante e imparcial O redator do site www.pop.com.br assim noticiou a derrapada de seu guru: "SACO CHEIO: O presidente Lula fez hoje um discurso inspirado nesta quinta?" Nem vou comentar o "hoje nesta quinta". Odorico Paraguaçu O vice José Alencar está cada vez mais parecido com o Itamar. E com o Odorico Paraguaçu. Na propaganda eleitoral gratuita, ao falar de um prêmio recebido pelo PL, o adverbial vice saiu-se com essa: " Obviamente, é uma homenagem que realmente cala profundamente em nosso coração". Como diria o prefeito interpretado por Paulo Gracindo em O bem amado, de Dias Gomes: Mormentemente, peremptoriamente, é deprimente. Sem falar no majestático, que só serve para soar arrogante e confundir redatores. Já estão dividindo até coração. É o partido do coração partido, como diria Cazuza. Abigeato na fumageira O locutor irrompe na madrugada para anunciar na TV as manchetes do dia seguinte no jornal: " Fumageira é condenada a pagar indenização à família de ex-fumante". Estas condenações, em si, já são o cúmulo. Adultos fumam porque querem, e duvido que alguém ainda não saiba que cigarros fazem mal. Nos Estados Unidos, de onde importamos esta moda, como o fazemos com tantas outras, já se processa lanchonetes fast-food por tornarem adolescentes obesos. Em breve bêbados processarão destilarias, usuários de celular farão o mesmo com as operadoras por terem se tornado falantes compulsivos, e os de TV a cabo por viciarem os filhos em desenhos animados, quem sabe até os consumidores de cocaína processem o Fernandinho Beira-Mar. Os pais não são mais os responsáveis pela educação básica das crianças. Elas estão entregues à própria sorte, ao McDonald`s, ao Cartoon Network e aos shoppings. E fumageira é dose. Deve ser prima do abigeato. Hei, John! Página de esportes de O Sul estampou nas chamadas letras garrafais: " Romário é o maior frasista peremptório da pequena área". Francamente, realmente, como diria o adverbial vice da República. A matéria era do editor de esportes do jornal, André Malinoski, que em nossos tempos na Zero Hora era chamado de John Lennon devido aos cabelos longos e aos óculos redondos. Figuraça. Gente fina. Mas, Ô, John, frasista peremptório é o Zé de Alencar. Sinceramente. Mordomia imprópria O ex-mordomo da princesa Diana escancara a vida privada da patroa morta nas páginas dos tablóides e de um livro. A manchete do Jornal da Globo deveria ser algo na linha "mordomo sem caráter revela intimidades de quem lhe deu a melhor chance de sua existência" ou "acabou a vida privada", ou ainda "celebridades terão de fazer todo o serviço doméstico daqui para frente se quiserem ter alguma intimidade", mas não, foi assim: "Há algo de podre na família real britânica".E ainda por cima insistem na desgastada expressão shakespeareana. A viadage continua
O humorista Bussunda, que acaba de se livrar, junto com os demais Cassetas, de um processo movido por gaúchos que o levaram a sério demais, fez graça com uma cuia de chimarrão na revista VIP. A legenda: "Bussunda, pegando na cuia e de olho na bomba: "Até gaúcho consigo me imaginar."" Ele também está levando essa fixação a sério demais. * Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha e Dona Deusa e seus arredores escandalosos e da ficção juvenil Elyakan e a Desordem dos Sete Mundos. Integra a equipe da ConsulteCom e escreve semanalmente neste site. eliziario.rocha@ibest.com.br