O mundo sério

Dizem que a brincadeira, a gozação, a ironia, o sarro (estou ficando velho mesmo, usar uma palavra destas) podem ser uma espécie de mecanismo …

05/11/2004 00:00
Dizem que a brincadeira, a gozação, a ironia, o sarro (estou ficando velho mesmo, usar uma palavra destas) podem ser uma espécie de mecanismo de defesa. O interlocutor engraçadinho usa a ironia para dizer o que quer, sem dar o tom de seriedade que muitas vezes a situação demanda. Certamente é um dos usos da ironia. E que tem neste escritor engraçadinho um usuário contumaz. O humor serve para atenuar as durezas da vida. Com ele, temos uma espécie de algodão entre cristais, bálsamo para as dores, água na aridez. Rindo, deixamos de nos levar tão a sério e ver que se a vida tem dores e durezas, por outro lado tem encantos e alegrias. Isto sem falar, claro, que movemos muito menos músculos para rir do que para chorar. Em tempos de economia e corte de gastos nos orçamentos de empresas e domésticos, temos que levar em consideração este fato. Economizamos esforço. O que ocorre, porém, é que o humor muitas vezes não é entendido como deveria. Em um mundo extremamente competitivo e individualista, é comum de uma ironia ou brincadeira despretensiosa terminar sendo mal-entendida. E, ao invés de uma ironia servir para atenuar, ela serve para sobrecarregar o ambiente, tornando-o ainda mais pesado. As pessoas estão tão acostumadas a serem atacadas, preteridas, passadas para trás, que quando recebem uma tirada de humor despretensiosa, acham que o autor está querendo dizer algo mais do que disse. Não apenas rir, com esta pessoa, da vida. Não apenas achar graça, relaxar, desopilar. Mas querendo dizer algo, nas entrelinhas. Fenômeno semelhante ocorreu com o assédio sexual. Claro, o assédio sexual verdadeiro é um crime e uma prática das mais perversas e merece todo o desprezo e encaminhamento policial. Porém, em especial nos EUA, o assédio sexual fez com que a antiga cantada perdesse espaço. Por medo de serem enquadrados como autores de assédio sexual, homens e mulheres tiraram o time de campo. Uma cantadinha, nem pensar. Com isto, o mundo perde um pouco mais de sua graça. Não é muito bom, tanto para uma mulher quanto para um homem, levar uma cantada? No caso das mulheres, elas não se sentem envaidecidas, com o ego inflado? Enviar flores, poesias, bombons (tudo bem, nos dias de hoje até os bombons podem ser diet), cartões, isto tudo não enche a atmosfera de um perfume? O mesmo está ocorrendo com o humor. Como faço brincadeiras e, de um modo geral, sou uma pessoa alegre, tenho notado que muitas vezes sou mal-interpretado. Em função disto, já estou diminuindo o número de vezes em que faço estas brincadeiras. Isto, sinceramente, me entristece. Porque mostra a dificuldade crescente das pessoas entenderem a graça de uma brincadeira e a poesia de uma cantada. Porque mostra que as pessoas estão endurecendo e, ao contrário de Che Guevara, podem estar perdendo a ternura, sim. Mas deste mundo eu não desisto, jamás. Os que convivem comigo ainda terão que agüentar muitas brincadeiras. Continuo achando que elas suavizam a vida. Sobre o assunto humor, vale a pena ler a última coluna do Zuenir Ventura, no site nomínimo: https://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=21&textCode=14138&date=currentDate&contentType=html Livros Depois de algum tempo sem comentar livros, segue uma dica da Elsevier/Campus: Planejamento Estratégico Fundamentos e Aplicações Arão Sapiro . Idalberto Chiavenato Lançado em 04/2004 . 448 pág. O livro é de grande utilidade, pois traz, passo a passo, todas as etapas para que se implemente um planejamento estratégico consistente, seja em empresas públicas ou privadas, entidades do terceiro setor, organizações pequenas médias ou grandes. Em tempos em que a regra é a mudança, planejar é o diferencial. Os autores, por suas carreiras e trajetórias, dispensam maiores apresentações.
fla.paiva@portoweb.com.br