Olho de tigre

Eye of the tiger era o que o treinador de Rocky Balboa (estrelado por Sylvester Stallone) pedia a ele. O que o treinador queria …

08/10/2004 00:00
Eye of the tiger era o que o treinador de Rocky Balboa (estrelado por Sylvester Stallone) pedia a ele. O que o treinador queria era a mesma vibração, a mesma garra, o mesmo espírito do boxeador Rocky Balboa, dos tempos em que ele tinha que treinar em ginásios fétidos e sem as mínimas condições. Ele tinha perdido o olho de tigre quando, ao atingir o ápice da carreira, experimentara o conforto material que a vida e sua situação financeira podiam lhe dar. Passou a ser espancado pelos seus adversários. Claro que (em especial em se tratando de um filme americano), o estereótipo é forte e a moral da história também. Porém, apesar de eu certamente vir a enfrentar narizes torcidos de meus leitores, por basear uma coluna em um filme como Rocky, acredito que esta moral da história serve para muitas situações de nossas vidas. Quantas vezes, ao longo da vida (e até do dia), perdemos o olho do tigre? Quantas vezes, para ir um pouco mais adiante, deixamos de perceber o quanto é maravilhosa a vida, o quanto é lindo o pôr-do-sol e o sorriso de um filho? A resposta é simples: quando perdemos estas coisas. A morte, mesmo que seja de alguém com avançada idade, sempre deixa aquela sensação de que mais havia para ser dito, sentido e vivido com aquela pessoa. Porém, tão atarefados que estamos, esquecemos que o que mais importa é o básico, como diria Coco Chanel. Perder a vibração da vida, o encantamento com ela, é envelhecer, não importa com que idade. A vida é dura? Sem dúvida. Na medida em que crescemos, quando deixamos de ser crianças, nos deparemos com uma realidade severa, dura, áspera. Mas ela é furada pelos nossos amores, por pequenas alegrias. Eles são nossa luz no final do túnel, quando nos sentimos dentro de um. E são nosso energético, nas horas de fraqueza. Conseguimos enxergar estas pequenas alegrias com nossos olhos de tigre, quando recuperamos a vibração da vida. Digo isto porque vejo tantas pessoas reclamando da dureza da vida e que acabam por se esquecer que o grande mistério da vida é o que ela tem, muitas vezes simultaneamente, de dura e de bela. De miserável e de maravilhosa. E, aqui para nós, por que a vida é assim? Porque a vida na terra é feita por pessoas, seres humanos. E os seres humanos são divididos por dois ramos de sentimentos: os nobres e os pobres. Nos nobres estão o amor, a solidariedade, a criatividade, a inteligência. Nos pobres estão os sete pecados capitais e todas as avarezas. Ouço as pessoas cada vez mais dizerem que o mundo está louco, violento, miserável. E penso: sim, mas o mundo é feito por quem? Por alienígenas? Vistamos a camiseta e a carapuça e partamos em busca das utopias que deixamos para trás na infância e na adolescência. Querer um mundo totalmente justo é uma utopia, algo que realmente jamais vai ser atingido. Mas temos que, com o olho de tigre, com a faca no meio dos dentes, buscá-la incessantemente. fla.paiva@portoweb.com.br