Na Justiça - A partir da condenação da empresária proprietária da Daslu, um tremor intenso sacudiu a esfera jurídica paulista. Foi choque de grande magnitude entre promotoria e defesa, que deslocaram imensos blocos de argumentos legais, os quais pulverizaram a noção de justiça no país. Resultado: em decorrência de uma infiltração de hábeas corpus, uma sentença de 94 anos desabou e a cadeia ficou arrasada, embora sem ninguém dentro. Tudo por causa das falhas e fendas nas leis que regem os crimes de sonegação. Desde então o Código Penal ainda está sob os escombros, à espera de resgate.
Na Administração Pública - No dia do jogo das seleções do Brasil e do Peru, houve um violento tremor em território governamental, com epicentro no Palácio Piratini. Sua força se propagou em direção à zona sul e desestruturou a programação da noite festiva no Estádio Beira-Rio. Por conta das poderosas ondas arbitrárias, que pressionaram a zona da Federação Gaúcha de Futebol, faltou chão para a primeira-dama Isabela Fogaça cantar Porto Alegre é Demais. O violento impacto fez ruir algumas reputações, embora não tenha havido ressonância nos dias posteriores. No Alto da Bronze, porém, a instabilidade continua.
Na Saúde Pública - Em Viamão, como em tantas localidades assentadas sobre faixas sem a sedimentação dos recursos federais, houve um balanço que fez ruir a fachada do SUS, o Sistema de Filas Únicas. Na verdade, em vez de um forte movimento causar o desmoronamento da imagem dos serviços de atendimento médico à população, foi o contrário: desta vez os equipamentos registraram uma grave perturbação por inércia. Milagrosamente, centenas de pessoas escaparam com vida, algumas com sintomas estranhos, como a esperança de ser atendidas em 125 anos. Para surpresa geral, os postos de saúde permaneceram intactos entre as ruínas do descaso.
Houve outros sinais inquietantes, entre 6,7 e 8,2 graus na escala de decepção com as autoridades. Primeiro, o agonizante estágio do Rio Gravataí, que repousa sobre um leito impermeável às atenções dos órgãos fiscalizadores. Depois, vários choques físicos em escolas, que trepidam diariamente por estarem mal-alicerçadas em terrenos deseducativos. Teme-se pelo pior: que os governantes nunca se abalem.
A Sra. Massa Polar, que pretendia visitar o RS por esses dias, desfez as malas, por motivo de luto: três meninos da família Iceberg, durante um programa em turma, desapareceram nas novas águas termais da geleira. /// Vários termômetros deram entrada ontem no HPS, em estado febril, dois deles com os miolos estourados. /// Alguns Freezers de confiança, que trabalham para grandes sorveterias nacionais, foram parar na delegacia por devorar sorvetes durante o expediente, alegando necessidade de se refrescar. /// Dúzias de Cervejas estupidamente geladas, encarregadas de conter os ânimos da população, não conseguiram evitar a estupidez de um grupo de bebuns assoliados. /// Uma gangue de Ar-Condicionado atacou, na madrugada de terça, um casal de Split e arrancou à força 30.000 BTUs, sendo 18.000 dele e 12.000 dela, que desmaiaram por falta de energia. /// Outro caso envolvendo um aparelho Ar-Condicionado fala de comportamento afetado pelas altas temperaturas, fazendo barulho em excesso e fora de hora. "Ele parecia afrescalhado", disse uma testemunha. /// Algumas sombras de pequenas árvores da Redenção assustaram pessoas quando se afastaram do seu lugar e procuraram abrigo sob árvores maiores e mais frondosas. /// O Sr. Verão e o Dr. Outono tiveram uma briga nesta semana, quando este acusou àquele de invadir sua época. Aos PMs que atenderam à ocorrência, o Sr. Verão disse apenas que tinha voltado para apanhar uns dias da sua estação, que ficaram para trás. /// Outras notícias a qualquer momento inclemente.
Às vezes a vida imita a arte, noutras tantas é o inverso. Quase sempre a vida se repete, de tanto em tanto algum artista baixa noutro, sem falar nos copiadores de ocasião e plagiadores de plantão. Puizé. Não foi nada disso que ocorreu na coluna anterior mas algo houve. O seguinte: publiquei aqui o texto Monólogos Urbanos na sexta, 3/4, e no domingo, 5/4, o meu amigo Bráulio Tavares, escritor e músico, reproduziu uma crônica dele, O negão do ônibus, no seu blog Mundo Fantasmo, originalmente publicado em 1/4/2006 no Jornal da Paraíba, onde é colunista. Puizé. Vão lá nos dois textos e confiram como a vida e a arte se mixam num déjà vu já visto. Uma assombrosa sincronicidade - às avessas, defasada ou retroativa, lá sei eu - surgiu e? E daí? Bom, espanto bom é espanto compartilhado.