Empregando de mal a pior

O desemprego não pára de desempregar tudo e todos, em toda parte, a toda hora. Por exemplo, esses desempregados exemplos: não se empregam mais …

25/08/2006 00:00
O desemprego não pára de desempregar tudo e todos, em toda parte, a toda hora. Por exemplo, esses desempregados exemplos: não se empregam mais palavras gentis como antigamente, não se empregam mais nem tantas pregas nem tantos pregos, estão deixando de empregar pregadores de madeira, empregados como motorneiros perderam o bonde da história, já não se empregam pregações éticas, não se empregam empregadores para contratar empregados em porta de fábrica, pararam de empregar de mata-borrões a corretivos para datilografia, já não empregam inteligência na televisão, nem empregam mais a expressão "e aí, bacana?", não empregam mais caixões à vista nas funerárias, ah, se voltassem a empregar o vínculo empregatício, não se empregam anões em jardins nem jardineiros de baixa estatura, estão cada vez mais desempregando a língua portuguesa por causa do inglês, não se empregam os pregões da bolsa em favor dos bolsos, há dezenas e dezenas e dezenas de desempregados para cada dez empregados, já não empregam empregadas domésticas que não sejam domesticadas pelos baixos salários, desempregaram o cabide de emprego nas fábricas de cabides, empregam mal a palavra mau no lugar de mal, não empregam mais laranjas descascadas ao sol, já não se emprega mais o silêncio enquanto o outro fala, não se emprega goma para engomar nem hábito de freira, vai mal o emprego do gerúndio, já se deixou de empregar faxineiros e porteiros e copeiras sem serem terceirizados, sei do desemprego crescente da esperança, não se empregam mais ínterim no lugar de interim como pântano em vez de pantano, não se empregam mais um peso e uma medida, e já não se emprega o verbo empregar como exercício escolar. Agora, gente para desempregar empregados, ah, isso continuam empregando muito.
Eu sou do tempo em que?

? agosto era o mês dos cachorros-loucos.

?. se comprovava a curvatura da Terra vendo os navios subirem e descerem o rio Guaíba.

? havia inverno no inverno e verão no verão.

? alguém de botas e bombachas no centro da cidade não causava estranheza.

? a mariola era pura banana e não de goiabada.

? os caicangues, para sobreviver com o seu artesanato, não precisavam esculpir crucifixos.

? as marquises dos prédios eram sem "habite-se".

? o futebol era um jogo que terminava em vitória, em empate ou em derrota e não em cadáveres.

?. o Sistema Solar tinha 9 planetas.

Etc.

Sonetinho conjuntural

Tive uma vez uma bela conjetura que conjeturava sobre tudo que via Da sombra negra à menos escura e à possibilidade de um novo dia

Minha conjetura sem se ferir inferia a respeito do ar, da arte, de arnica Mas se tudo aferia, referia e conferia, a tadinha não diferia titica de política

Assim conjeturando toda a realidade lá se foi seu discernimento natural, morreu por não aturar tal atualidade

Depois dessa minha perda conceitual passei a criar boatos, única insanidade que sobrevive à conjuntura nacional.