Esclarecimentos obscuros

Por um lado, a veem�ncia năo faz parte do argumento. Por outro, a ignor�ncia faz. De um lado, o tiroc�nio com id�ias; de outro, …

23/08/2005 00:00

Por um lado, a veem�ncia n?o faz parte do argumento. Por outro, a ignor�ncia faz. De um lado, o tiroc�nio com id�ias; de outro, o mortic�nio delas. Lado a lado, as figuras de linguagem e a linguagem das figura�as. E ladeando tudo, informa�?es desenformadas. Ou desinforma�?es enfurnadas, sei l�. Afira o que fere o ouvido, confira o que difere do entreouvido, afora o que interfere no duvido. S?o minhas figuras de estrilo.

� Hip�rbole n?o � uma par�bola descomunal. � Ila�?o n?o � exclusividade entre associados. � Cac�fatos n?o s?o estilha�os factuais. � Meton�mia n?o � uma ignom�nia invertida. � Paranom�sia n?o � a amante do Padre Quevedo. � Alegoria n?o � irrita�?o cut�nea simb�lica. � Catacrese n?o � procurar crise na crase. � Sin�doque n?o � um cinema num cais. � Onomatop�ia n?o � a prosopop�ia da centop�ia. � Sinestesia n?o � a dorm�ncia do pensamento. � Ant�tese n?o � o oposto da vida acad�mica. � Per�frase n?o � um atalho entre dois sentidos. � Grada�?o n?o � p�r barras de ferro na �nfase. � Disfemismo n?o � o avesso do machismo. � Ap�strofe n?o � um poeta na Santa Ceia. � Elipse n?o � tapar o sol com um clip. � Ass�ndeto n?o assina, n?o assinala, n?o sinaliza. � Hip�rbato n?o � estalar a l�ngua no c�u da boca. � Anacoluto n?o � a incompreens?o da morte. � An�fora n?o � uma moringa grega. � Anadiplose n?o � lipoaspira�?o no texto. � Di�cope n?o � um infarto do di�cono. � Ep�strofe n?o � uma missiva rimada. � Asson�ncia n?o � afonia em vale de eco. � Alitera�?o n?o � altera�?o entre literatos. � Silepse n?o � a sinopse de uma sinapse. � Raciocinar n?o � racionar um pouco al�m � Tergiversar n?o � regurgitar um poema. Etc.

Poeminha passo a passo

Modelos passeiam pisam posam pousam

Carreira de alguns metros

Do anonimato ao estrelato Ida e volta

Passam

S�rgio Merc�rio, parafraseando Drummond, tem duas m?os e todoentretenimento do mundo: � titiritero. E � espetacular. Dos bastidores(cria os roteiros e os pr�prios bonecos) ao palco (atua com t�teres e como ator) at� � plat�ia (em shows de improviso), S�rgio Merc�rio � ex: ex�mio na manipula�?o dos bonecos, excepcional nos textos, excelente comocoadjuvante de seus personagens, extraordin�rio no timing e no timbredas vozes. Ora S�rgio manipula as criaturas, ora as criaturas manipulam Merc�rio, �s vezes todos manipulam os espectadores e at� quem assiste tenta manipular algumas cenas. Humorista, fil�sofo e poeta, S�rgio Merc�rio faz rir com id�ias, pensar com gra�a e intrigar com lirismo. Seria um argentino t�pico se n?o fosse at�pico no dom�nio do portugu�s, entre tantos dom�nios c�nicos. Como artista, S�rgio � imperd�vel, mas, eu sei, voc� o perdeu e �s suas �ltimas apresenta�?es na Usina do Gas�metro. Como titiritero, Merc�rio tamb�m est� perdido: desde 1992 percorre a Am�rica Latina e n?o sabe mais se est� indo ou vindo. Partindo ou chegando, por onde passa segue admir�vel. Para saber mais de um projeto que merecia mais aten�?o do p�blico, acesse www.utopos.org/banfield.htm .E aguarde o inevit�vel: o bem-vindo retorno dele.

OUTRA PERDA - Paulo Acosta, 56 anos de apego � vida, nos deixou semana passada. Ainda n?o sei o que pensar, s� o que sentir. Que se pode dizer, agora que fica o dito pelo n?o dito? Elogios a falecidos soam sem destino - o destinat�rio deixou de ser o ouvinte mais interessado. Acosta, jornalista s�rio, frasista nato, ser humano humanizado o tempo todo. Todo o tempo otimista e esperan�oso, uma raridade afetada por rara fatalidade. Para ele, o tempo parou. Para quem o conheceu, segue ao encontro das lembran�as.