Ignorâncias com ânsias

Não sei porque as nuvens se desmancham pra vir até a gente. Não sei, igualmente, porque é que o mal-me-quer e o bem-me-quer não …

14/09/2015 14:22 / Atualizado em 18/11/2015 15:40
Não sei porque as nuvens se desmancham pra vir até a gente. Não sei, igualmente, porque é que o mal-me-quer e o bem-me-quer não deixam de ser duas possibilidades numa sondagem de amor e não se tornam duas espécies distintas de flor. Não sei de onde as pálpebras tiram tanto sono quando a noite vai longe. Não sei como é que não pode uma bola de neve ficar menor se rolada de volta aclive acima. Não sei porque os tapas e as carícias têm que ser feitos com as mesmas e únicas mãos que temos. Não sei como vai a minha paciência nem quero saber! Não sei porque as torneiras nos obedecem tão passivamente. Não sei de onde virá o que virá. Não sei porque o homem veio do barro e só inventou as galochas milênios depois, nem porque há meio século desapareceram. Não sei como cabe tanta angústia num pesadelo apenas. Não sei porque nossos cabelos crescem apesar de nem ligarmos quando a brisa sopra neles. Não sei porque a água do poço me dá saudade. Não sei de onde a Morte consegue essa imensidão de cadáveres. Não sei como as abelhas ainda não copiaram a indústria produzindo glicose em vez de mel. Não sei como fazer pra ouvir a voz da consciência alheia que a minha já tá enchendo. Não sei porque meu primeiro cavalo morreu sem relinchar, me chamando pro adeus. Não sei porque as pessoas não prestam atenção em nada quando não tem placa pedindo atenção. Não sei para onde foi tudo que eu não queria esquecer. Não sei porque a couve-flor é vendida em supermercados e não nas floriculturas. Não sei por eu tenho asco de rato mas só dos ratos vistos à luz do dia. Não sei porque os teus sonhos e os meus não se juntam como nossos. Não sei a quantas anda as andas que larguei na infância. Não sei porque o amanhecer é tão próximo do início do expediente. Não sei como os mistérios e os milagres ainda acreditam no ser humano. Não sei de nada.  
 

ENQUANTO ISSO, EM ALGUM GABINETE PARLAMENTAR