Soneto da insegurança pública

(Sobre o poema de Vinícius de Moraes) De repente nas ruas fez-se o deserto Ameaçador e escuro como os vultosE das bocas mudas fez-se …

23/05/2008 00:00

(Sobre o poema de Vinícius de Moraes)

De repente nas ruas fez-se o deserto Ameaçador e escuro como os vultos E das bocas mudas fez-se os sustos E das mãos ao alto fez-se seqüestros De repente da farda fez-se ausência Que dos olhos desfez o patrulhamento E do camburão fez-se estacionamento E do crime comum fez-se ocorrência   De repente, não mais que de repente Fez-se o quartel esconderijo policial E sem pensar se desfez o contingente   Fez-se do vigilante próximo o distante Fez-se da vida um risco governamental De repente, não mais que de repente.

Para os albinos, casa com excelente orientação solar é aquela com sombra a maior parte do dia.

Para os moradores do agreste, previsão de tempo bom é a que anuncia chuvas por longos períodos.

Para os hidrófobos, a escassez de água é como um oásis.

Para os deficientes auditivos, a Sinfonia Inacabada de Schubert e o Moto Perpétuo do Paganini são do mesmo tamanho.

Para os eunucos, um harém é tão apetitoso quanto um osso para um cão desdentado.

Para os diabéticos, um açucareiro é a coisa mais amarga que existe.

Para os sem-teto, os automóveis no viaduto são como ratos num sótão.

Para os céticos, as más no tícias dos jornais são as únicas que merecem atenção.

Para os daltônicos, monocromia é algo visualmente tão bonito quanto a policromia.

Etc.