Carmen Carlet: Sem envelhecer a alma

Aventureira, a jornalista tem no currículo idas de carona para Santa Catarina até a prática de rafting e voo de parapente

Carmem Carlet - Divulgação

Por Cinthia Dias

Por trás da imagem de assessora de imprensa da jornalista Carmen Carlet, existe uma cozinheira de mão cheia que se aventurou por um ano no curso de Alta Gastronomia no Instituto de Gastronomia das Américas (IGA), em Porto Alegre. Ela veste o avental, põe um lenço na cabeça e coloca em alguma playlist de Eletrotango no Spotify - para embalar o ritmo das receitas. Assim, em meio às panelas e temperos, é colocada em prática sua maior paixão.

Sem um prato preferido, gosta muito de carnes - principalmente se estiverem mal passadas -, pizzas e frutos do mar, com destaque para os camarões de Imbituba, em Santa Catarina, que faz questão de trazer sempre que visita a mãe, Eva. É apreciadora de vinhos e espumantes, sem deixar de lado os cafés expresso. O vício pela bebida quente torna boa parte das cafeterias da Capital em lugares bem familiares. Não é à toa que em seu apartamento no bairro Medianeira, onde reside sozinha, tem uma máquina de expresso e a tradicional italiana.

"O meu cozinhar é mais prazer do que uma profissão", diz, referindo-se ao projeto que toca, desde 2015, em paralelo às atividades na área da Comunicação. Conforme a demanda, elabora comidas saudáveis de acordo com as dietas receitadas pela nutricionista. O hobby nasceu da percepção de que, muitas vezes, dentro uma empresa é difícil seguir com as orientações médicas.

Mesmo assim, ela não aprecia nem acompanha os episódios do programa de TV Master Chef. A forma como os participantes são humilhados nada a agrada e a afasta deste gênero de atração. Para ela, o ato de cozinhar é uma forma de compartilhar energia e, portanto, não deve ser algo com exigências e pressões, mas sim, ser leve. Em contrapartida, não perde uma maratona de séries de ficção científica na Netflix.

A expressão 'do limão uma limonada' não é suficiente para ela. Por que não explorar todas as possibilidades que a fruta oferece, como uma torta ou usá-la para temperar peixes e frangos? Essa impressão traduz, literalmente, sua maneira de desenvolver os pratos, indo além das receitas, e seu modo de encarar a vida profissional. Movida a desafios em cada trabalho que assume, lembra que correu atrás para desenvolver uma ação do aplicativo 99POP na Capital.

Eterno questionamento

Não foi pela influência do tio Odon Rodrigues, repórter esportivo e gremista fanático, que ingressou na Comunicação. A incompatibilidade com a área de Exatas lhe aproximou, no susto, do curso de Humanas. Pouco tempo depois de terminar o segundo grau na Escola Estadual de Ensino Médio Infante Dom Henrique, no bairro Menino Deus, decidiu prestar vestibular, mesmo sem estudar, apenas para ver como era.

Inesperada, a aprovação chegou junto com a dúvida se iria se matricular. "Não quis me registrar, porque achava injusto com quem tinha estudado." Aos risos, recorda que sua mãe não a deixou fazer isso, resultando no ingresso na Famecos, da PUC, no segundo semestre de 1979.

A recém-chegada ao universo acadêmico acabou conhecendo o então bicho de Publicidade e Propaganda Cesar Carlet, com quem esteve casada por 10 anos. Com ele, tudo aconteceu muito rápido: "Nos conhecemos, namoramos e voltamos para o segundo semestre casados." Como adotou o nome do, agora, ex-marido, o manteve mesmo após o divórcio e brinca que o sobrenome acabou sendo uma herança.

Ainda na faculdade, o professor Carlos Alberto Carvalho, que ministrava uma das disciplinas de Rádio, previu, desde a primeira aula, que seria associada, para sempre, como uma familiar do radialista Wianey Carlet - falecido em setembro deste ano. Na realidade, o verdadeiro parente do comunicador é seu ex-companheiro, cujo vínculo é de segundo grau.

As aparências enganam

No currículo de Carmen não constam apenas passagens por veículos e agências, mas a prática de rafting, em Três Coroas, no interior do Estado, e o voo de parapente, na Praia Mole, em Santa Catarina. Sua coragem vai além de práticas esportivas, que, hoje, resumem-se às aulas com personal trainer. Apesar dos amigos a condenarem muito ou a chamarem de louca, como brinca, tem visitado sua mãe, Eva, que reside em solo catarinense, por meio de caronas de desconhecidos. "Não acho perigoso e acredito que a minha profissão me tornou menos inocente. Sei onde estou me metendo", declara.

Não nega que é filha do militar aposentado José Maurílio. Em seu ponto de vista, reconhece que, por ser mais reservada e não admitir que invadam sua intimidade, pode ser rotulada de antipática, peculiaridade que avalia ter sido herdada do pai. Do lado materno, carrega a característica de ser amorosa e, embora se considere uma pessoa dura, garante que é carinhosa quando as pessoas precisam de um colo. E, mesmo sendo comunicadora, diz-se tímida e, para lidar com a vergonha, criou uma persona extrovertida, a qual incorpora para "seguir o baile".

Da família, além dos pais, que são divorciados, fala dos dois irmãos Alexandre, por parte de mãe, que mora em Santa Catarina, e Daniele, por parte de pai, que vive na Capital. "Minha família é meio estranha. Mesmo sendo grande, sou sozinha", diz, fazendo referência ao fato de ser a única filha do casal. Ainda, lembra, brincando, que ela e a caçula, que também é assessora, dividiram a torcida de futebol no Rio Grande do Sul. Enquanto Carmen respondia pela pauta de modernização do estádio do Internacional, o Beira-Rio, a irmã cuidava da imagem do Grêmio. Coloradíssima, como se intitula, compartilha que foi gratificante unir o trabalho com a paixão pelo time do coração. Fã de Fernandão, que morreu em 2014, assume que não assiste aos jogos para não sofrer.

Da redação ao home office

Ainda na Famecos, começou a carreira empreendendo ao lado do ex-marido e dos relações-públicas Luiz Ildebrando Pierry e Olga Velho. O quarteto lançou a extinta empresa de Comunicação Marché - que significa mercado em tradução livre. Inquieta, um ano depois, deixou a organização para ser editora do Guaíba Notícias na antiga TV Guaíba. Da televisão, migrou para outro canal também comandado pela mesma empresa, o Correio do Povo.

De lá, foi parar no extinto Diário do Sul, pertencente à Gazeta Mercantil, onde ficou até o fechamento do jornal, em 1988. "Uma grande escola para mim." No impresso, assumiu projetos especiais, editou o caderno de Propaganda e Marketing e, sob a supervisão da jornalista Vera Spolidoro, atuou em Economia. Sem dominar as ferramenta tecnológicas, observa que do conteúdo de TV e de jornais não se esquece nunca, apesar do tempo longe das redações.

Com o fim do diário nasceu seu atual exercício profissional. Na Centro de Propaganda foi apresentada ao universo da assessora de imprensa e, desde 1989, não saiu mais dele. "Encantei-me com a área, porque sempre tive clientes com desafios", declara, referindo-se às empresas de logística, construção civil, estrada e indústria que atendeu.

Em seu currículo, também tem a participação na criação da Uffizi Comunicação, ao lado de Almir Freitas e Mariangela Amorim. A ideia de montar a empresa nasceu do convívio dos três na Insider Comunicação, onde Carmen trabalhou entre 1995 e 1999. Dois anos após a Uffizi estar no mercado, em 2001, deixou a sociedade. Ainda, a jornalista assinou uma coluna no Jornal Já, assessorou a vereadora Séfora Mota e trabalhou como correspondente da PropMark, publicação da Editora Referência, e do site paulista Meio&Mensagem.

Desde 2000, trocou a tradicional estrutura física para viver o home office e confessa que no começo foi difícil, pois sentia-se constrangida porque muitos clientes não entendiam essa decisão e julgavam importante um endereço comercial. "É muito mais prático. Não estou engessada, levo para onde for minhas atividades, pois só preciso de notebook, celular e informação." Atualmente, presta assessoria junto da jornalista Marta Schlichting na CC+MS Jornalistas Associadas. A parceria veio em seguida que deixou a área política, em março de 2016.

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