Versão da hora

Colunista causa polêmica ao dizer que pobre "quer ter uma doença” e tem como principal preocupação “procriar”

14/01/2015 14:22 / Atualizado em 14/01/2015 15:28
Versão da hora
Com o título "O plano cobre", um texto da jornalista Silvia Pilz, para o jornal O Globo, causou revolta entre os leitores, por fazer críticas aos pobres. No artigo publicado em seu blog, a colunista começa afirmando que "todo pobre tem problema de pressão", "se arruma" para ir a consultórios médicos e que ?provavelmente se sente em um cenário de novela?. Segundo ela, ?o pobre quer ter uma doença? - como tireoide, ?é quase chique? - e tem como principal preocupação na vida ?procriar?. A publicação ganhou repercussão negativa nas redes sociais e, em oglobo.com, já ultrapassa a marca de 300 comentários, a maioria criticando o posicionamento da colunista. Muitos leitores se dizem ofendidos, afirmam que o conteúdo do artigo é preconceituoso e até alertam para as dificuldades enfrentadas por aqueles que sofrem com doenças de pressão arterial. Após a repercussão negativa, a colunista afirmou que sua intenção não eram ofender. "Humor cáustico perde a graça quando precisa ser explicado. Falhei. Poucos se divertiram e muitos se ofenderam. A intenção não era essa", registrou. Leia a íntegra do texto. O plano cobre Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado. Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética, ultra de bexiga cheia. Acontece que o pobre ? normalmente ? alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão. Como o hemograma completo exige jejum de 8 ou 12 horas, o pobre, sempre bem arrumado, chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente. Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas. O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela. Normalmente, se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios. É comum ver crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada. O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase chique. Outro dia assisti a um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo. Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo ?tenho cisto no ovário e quero saber se posso engravidar?. Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido. Voltando ao exame de sangue, vale lembrar que todo pobre fica tonto depois de tirar o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama. Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos. O avanço da medicina ? que me amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos  ? conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame, espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira, mostra a cicatriz da cirurgia. Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [colesterol alto] e alegam ?estar com o sistema nervoso? quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional. O que me fascina é que o interesse deles é o diagnóstico. O tratamento é secundário, apesar deles também apresentarem certo fascínio pelos genéricos. Mesmo ?com colesterol? continuam comendo pastel de camarão com catupiry [não existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de ?deixar a vida me levar, vida leva eu? debaixo de um calor de 48 graus. Pressão: 12 por 8 Como são felizes. Babo de inveja. ATENÇÃO: Humor cáustico perde a graça quando precisa ser explicado. Falhei. Poucos se divertiram e muitos se ofenderam. A intenção não era essa.