Em uma iniciativa inédita na imprensa brasileira, cinco jornais do País realizaram uma apuração conjunta sobre a gestão das universidades públicas brasileiras. A reportagem Universidades S.A foi publicada neste domingo, 12, no Diário Catarinense, Estado de S. Paulo, Gazeta do Povo, O Globo e Zero Hora. Resultado de quatro meses de apuração, o trabalho revelou negócios privados, contratos obscuros e intermediações feitas por fundações envolvidas em irregularidades nas instituições. Mais de 20 jornalistas foram mobilizados. Eles ouviram 105 pessoas e pesquisaram mais de 3,2 mil páginas de documentos, entre acórdãos, contratos, convênios, inquéritos, notas fiscais, ofícios, pareceres, planilhas de pagamento e relatórios de auditoria. A reportagem especial apresentou uma radiografia das instituições consideradas berçários do conhecimento e da pesquisa do País e constatou que, em muitos casos, as relações entre universidades e empresas sofrem com falta de transparência. Por meio de convênios com fundações, surgiram serviços de cifras milionárias e que nada têm a ver com os objetivos acadêmicos das instituições. Professores, alguns com regime de dedicação exclusiva na universidade, conseguem multiplicar seus salários com trabalhos paralelos - mesmo que isso signifique, em certos casos, conflito ético ou atividade irregular. Os órgãos de controle, como tribunais de contas da União e dos Estados, Controladoria Geral da União, além de Ministério Público, questionam a forma como essas relações são estabelecidas e indicam na reportagem a potencial porta para irregularidades. Os repórteres fizeram uso da Lei de Acesso à Informação - já que, em alguns casos, os documentos não estão disponíveis - e também de ferramentas fundamentais para a democratização de dados no País, como os portais de transparência federal e estaduais. Em campo, estiveram os repórteres Adriana Irion e Humberto Trezzi, de ZH, Lauro Neto, de O Globo, Paulo Saldaña, de O Estado de S. Paulo, Felippe Anibal, de Gazeta do Povo, e Luis Hangai, do jornal Diário Catarinense, além de equipes de editores, fotógrafos, cinegrafistas e diagramadores em todas as redações.
O que aponta a investigação
O Globo localizou uma professora de informática que conseguiu acumular o cargo de docente com Dedicação Exclusiva (DE), coordenadora técnica de um projeto entre a sua faculdade e a Petrobras, bolsista na função de pesquisadora, fiscal do contrato celebrado entre a universidade e uma fundação e, ainda, sócia numa das empresas contratadas para desenvolver o serviço.
Gazeta do Povo mostrou como uma universidade pública é usada para driblar licitações do conserto de estradas - e como professores lucram milhões de reais com isso.
Zero Hora comprovou que docentes são mais bem pagos por hora trabalhada fora da universidade do que dentro dela, e como um alto funcionário do Ministério da Saúde fez mestrado viajando nos dias das aulas. O
Estadão revelou como fundações intermedeiam os principais contratos e pagamentos e expandem cursos privados dentro de instituições públicas de ensino superior. O
Diário Catarinense apurou que apenas quatro fundações movimentaram R$ 195,8 milhões em 2014. Mais de 2,5 mil fundações trabalham com o meio acadêmico brasileiro e são usadas cada vez mais na intermediação de serviços. Entre janeiro de 2013 e julho de 2014, elas receberam R$ 1,4 bilhão do governo federal, conforme levantamento feito pela ONG Contas Abertas, a pedido da reportagem. Clique nas imagens para ampliar.
Em ação inédita, cinco jornais investigam juntos gestão de universidades
Reportagem envolveu mais de 20 profissionais dos veículos Diário Catarinense, Estado de S. Paulo, Gazeta do Povo, O Globo e Zero Hora
13/04/2015 18:42
/ Atualizado em 14/04/2015 17:37